BVS-Psi Brasil

BVS Psicologia Brasil

Temas de Psicologia

Temas de Psicologia

  • Alcoolismo ou Transtornos pelo abuso de álcool
    Doença crônica, primária, com fatores genéticos, psicosociais e ambientais influenciando seu desenvolvimento e manifestações. A doença é geralmente progressiva e fatal. É caracterizada pela falta de controle sobre a bebida, pré-ocupação com a droga álcool, uso de álcool apesar das consequências adversas, e distorções no pensamento, negação notável. Cada um destes sintomas pode ser contínuo ou periódico.
  • Distúrbios de ansiedade
    Disturbios caracterizados por ansiedade ou apreensao sem motivo ou causa aparente. Incluem-se entre os sintomas: irritabilidade, expectativas (com base na ansiedade), pesar de consciencia, crises de ansiedade, ou fobias. Use NEUROSE DE ANSIEDADE para acessar referencias entre 73-96. Anterior a 1988, considere tambem ANSIEDADE.
  • Envelhecimento
    Mudanças graduais irreversíveis na estrutura e funcionamento de um organismo que ocorrem como resultado da passagem do tempo.
  • Formação do psicólogo

    Educação convencional visando a formação e treinamento para a prática de uma profissão.

  • Narcisismo
    Amor-proprio no qual todas as fontes de prazer sao fantasiosamente acreditadas emanar do proprio eu, resultando em uma falsa sensacao de onipotencia, e em que a libido nao esta mais ligada a um objeto de amor externo, e sim redirecionada para o proprio eu.
  • Qualidade de vida

    Conceito genérico que reflete um interesse com a modificação e a aprimoramento dos componentes da vida, ex. ambiente físico, político, moral e social; a condição geral de uma vida humana.

  • Transtornos ou problemas de Aprendizagem

    Afecções caracterizadas por discrepância significativa entre nível intelectual percebido de um indivíduo e sua capacidade em adquirir novas habilidades de linguagem e outras cognitivas. Estes transtornos podem resultar de condições psicológicas ou orgânicas. Os subtipos relativamente comuns incluem DISLEXIA, discalculia e disgrafia.

  • Grandes autores da Psicologia e Psicanálise
    Autores consagrados da psicologia e da psicanálise.
    • Bion, Wilfred R.

      Wilfred Ruprecht Bion, nasceu em Mattra (hoje Mathura, Índia), a 8 de setembro de 1897. Bion passou os oito primeiros anos de sua vida na Índia, onde seu pai era engenheiro da construção civil. Em 1905, o rapaz é mandado à escola na Grã-Bretanha. Em 1915, suspende sua escolaridade para alistar-se no Exército durante a Primeira Guerra Mundial, imediatamente antes de seu 18º aniversário. De origem anglo-indiana por sua mãe, Bion pertencia, por parte de seu pai, a uma família de missionários protestantes - mais precisamente de calvinistas suíços de origem huguenote (denominação dada aos calvinistas franceses pelos seus inimigos nos séculos XVI e XVI). Se adicionarmos a essas origens religiosas o fato de que a família se viu isolada dos outros europeus por longos períodos, pois obrigada a deslocar-se de canteiro de obras em canteiro de obras, muitas vezes situados em regiões quase inabitadas, o jovem Wilfred encontrou-se em contato com duas culturas muito diferentes. É nessa experiência de contraste e oposição, mas também de mediação e amor entre dois mundos, que se alicerça a idéia, cara a Bion, de que um indivíduo significa pertencer a um grupo e, simultaneamente, desligar-se dele, até mesmo opor-se-lhe. A carnificina da 1ª Guerra Mundial não fez mais do que confirmar essa experiência; Bion incorporou-se ao Royal Tank Regiment (1916-1918), onde se distinguiu como um soldado e um chefe ímpar: por várias vezes citado em ordem do dia, recebeu a Distinguished Service Order e a medalha de cavaleiro da Légion d'honneur.  Por muito distantes que possam parecer da psicanálise, esses eventos fundadores de sua experiência alimentaram sua inteligência do terror, do medo, da dependência, do amor, do ódio em geral e do ódio à compreeensão e ao saber em particular. Tudo isso devia guiá-lo mais tarde em seus contatos profundos com os pacientes psicóticos. Foi quando fazia o curso de história no Queen's College, em Oxford (1919-1921), que ele descobriu os escritos de Freud. Desejoso de aprofundar seus conhecimentos em psicologia, iniciou seus estudos de medicina no University College Hospital de Londres (1924-1930), obtendo a medalha de ouro de cirurgia e a medalha de prata de diagnóstico. Em 1938, começou com John Rickman uma análise que o início da 2ª Guerra Mundial o obrigou a interromper. Na qualidade de psiquiatra do Exército, foi então o iniciador de uma nova abordagem da terapia de grupo. Em 1945, reata uma análise com Melanie Klein. Durante a guerra, casou-se com uma atriz bem conhecida, Betty Jardine, que morreu tragicamente quando sua filha nasceu no mesmo ano de 1945. Depois, em 1950, é admitido como membro associado da Sociedade Psicanalítica Britânica (B.P.S.). Bion ocupou sucessivamente diversos postos de responsabilidade: secretário (1933-1939), presidente (1946) da seção médica da Sociedade Psicológica Britânica; presidente do Bureau da Clínica Tavistock em Londres (1945); diretor da Clínica de Psicanálise de Londres (1956-1962) e presidente da Sociedade Psicanalítica Britânica (1962-1965). Permaneceu depois como membro ativo do conselho da S.P.B. e no exercício da presidência do Melanie Klein Trust até à sua partida, em janeiro de 1968, para a Califórnia. Aí trabalhou e lecionou até o seu regresso à Grã-Bretanha em 1979, alguns meses antes de sua morte. Nos últimos dez anos de sua vida, ensinou muito na América Latina. Em 1978, tornou-se membro honorário da Sociedade Psicanalítica de Los Angeles, e, em 1979, Honorary Fellow do A. K. Rice Institute. As principais contribuições de Bion para a psicanálise dizem respeito à técnica psicanalíticae à epistemologia, com especial insistência sobre o próprio processo de reflexão. Ele abordou este último tema de diversos potos de vista (ou vertex) - o do grupo, do psicótico, do esquizofrênico, do paciente borderline ou caso-limite, e o do pensador individual, 'gênio' ou não, que tem que enfrentar a pressão de ataques, do interior ou do exterior, devidos à hostilidade para com o processo de reflexão e os pensamentos que daí resultam. Entre os principais conceitos que ele desenvolveu assinalemos os de 'devaneio baseado na atenção flutuante', de função alfa, pela qual Bion acreditou poder substituir a teoria freudiana dos processos primário e secundário, de elementos alfa e beta, de conteúdo e continente e de perspectiva reversível. Todos os seus livros têm a reputação de 'difíceis', sobretudo o último, 'A memoir of the future' (Uma memória do futuro, 1975[1979] ). O leitor que consegue superar todas as dificuldades e chegar ao fim desta trilogia é amplamente recompensado por seu esforço. Citemos as principais entre suas outras publicações: Experiences in groupes (Experiências com grupos, 1961); Four Servants (Quatro domésticas, 1977) e Attention and Interpretation (Atenção e interpretação, 1970). A influência de Bion no domínio de psicoterapia de grupo e na elaboração de técnicas de grupo mais ou menos afins foi ao mesmo tempo rápida e generalizada. No campo da psicanálise, em contrapartida, e apesar de sua reflexão estar largamente enraizada na de Freud e Melanie Klein, suas idéias e teorias inovadoras suscitaram viva controvérsia e tiveram dificuldade em impor-se antes dos anos de 1970. Passou seus últimos anos em Los Angeles, Califórnia. Realizou diversos seminário no Brasil a partir da década de 1970, influenciando profundamente diversos profissionais da área Estão editadas no Brasil as seguintes obras de W. R. Bion mais conhecidas: O aprender com a experiência; Atenção e interpretação; Cogitações; Conferências brasileiras; Conversando com Bion; Experiências com grupos; Uma memória do futuro e Transformação (Editora Imago) - Os elementos da psicanálise (Zahar Editores). Após se tornar célebre, no fim da vida retorna à Inglaterra, e morre de leucemia a 8 de novembro de 1979. (FONTES: PLON, M.; ROUDINESCO, E. Dicionário de Psicologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998; MIJOLLA, A. de (dir.). Dicionário internacional de psicanálise: conceitos, noções, biografias, obras, eventos, instituições. Rio de Janeiro, Imago, 2005, p. 238-240).

    • Ferenczi, Sandor

      Nascido na Hungria em Miskole, originário de família judaica, Sandor Ferenczi não só foi o discípulo preferido de Sigmund Freud, mas também o clínico mais talentoso do freudismo. Foi através dele que a escola húngara de psicanálise produziu uma prestigiosa filiação de artífices do movimento, entre eles Melanie Klein, Geza Roheim e Michael Balint. A obra de Ferenczi é composta de numerosos artigos de estilo inventivo e sempre ligados à realidade. De forma muito abreviada, cabe acentuar as seguintes contribuições de Ferenczi: 1. Lançou as sementes à teoria das relações objetais e do conceito de introjeção (convém lembrar que foi o primeiro analista de Melaine Klein); 2. Antecipou-se 15 anos aos estudos de R. Spitz, afirmando que 'as crianças que são recebidas com aspereza e falta de amor morrem fácil e voluntariamente'; 3. Em seu trabalho 'Confusão de línguas entre o adulto e a criança' (1933) ele retoma a teoria do trauma da sedução real, afirmando que isto acontece 'quando os adultos confundem os jogos de criança com os desejos das pessoas sexualmente adultas'; 4. Foi pioneiro a dar significativa importância à pessoal real do analista, quer quanto a uma possível hipocrisia e inadequações deste, quer como uma rara oportunidade propiciada ao paciente de poder reelaborar os primitivos problemas através de uma nova figura parental representada pelo analista, o qual o respeita. Em resumo, Ferenczi considerou a personalidade do analista como um instrumento de cura analítica; 5. Não acreditava em nenhum critério definido de analisabilidade, ao contrário, advogava a idéia de que todo paciente ao solicitar uma ajuda psicanalítica deveria recebê-la; 6. Foi precursor da postulação de muitos autores - como Winnicott, Kohut, Balint - de que a regressão do paciente propicia que o analista complemente as primitivas falhas parentais; 7. Embora seja discutível, a adequação analítica de sua técnica inovadora (ou técnica ativa), nesta Ferenczi foi o primeiro discípulo de Freud a mostrar que a técnica concebida pelo mestre não era a única que poderia beneficiar o paciente em análise; 8. Ferenczi sempre apresentou interesse muito maior pelas questões técnicas da psicanálise que pelos aspectos metapsicológicos, sendo considerado o clínico mais talentoso da história da psicanálise pioneira; 9. Publica, em 1924, 'Thalassa, Ensaio sobre a teoria da genitalidade', onde afirmava que a vida intra-uterina reproduzia a existência dos organismos primitivos que viviam nos oceanos; 10. Em 1908 lançou as primeiras idéias sbore a importância do fenômeno da contratransferência, que Frreud veio a desenvolver dois anos após; 11. Seus inúmeros trabalhos estão reunidos em quatro volumes, sob o título de Obras Completas (1992).  Devido ao surgimento de uma anemia perniciosa, faleceu em 1933. (ZIMERMAN, David E. Vocabulário contemporâneo de psicanálise, Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 146 e ss.)

    • Freud, Sigmund

      Sigmund Freud (1856 — 1939) é considerado o criador da psicanálise, autor que mais contribuiu com profundas e originais concepções que ainda na atualidade continuam sendo fonte de inesgotáveis estudos e pesquisas, e o maior divulgador da ciência psicanalítica. Na entrada do ano 2000, na maioria dos órgãos da mídia internacional, FREUD foi escolhido como a personalidade mais importante do mundo científico do milênio que passou. Seus livros foram traduzidos em cerca de 30 idiomas, tendo sido publicados, no mínimo, 10 biografias sobre a sua vida e obra. Deixou um legado de mais de 300 títulos, sendo 24 livros, 123 artigos e uma correspondência avaliada em 15.000 cartas (até 2001). Freud nasceu em em Freiberg, hoje Pribor, na República Tcheca, em 6 de maio de 1856 e recebeu o nome de Schlomo Sigismund. Seu pai era comerciante de lã; contava 41 anos e já tinha dois filhos de um primeiro casamento quando casou-se com Amália, então com 21 anos. Dessa união nasceram mais sete filhos, sendo Sigismund (nome posteriormente trocado para Sigmund) o mais velho deles. Sua mãe o chamava Mein goldene Sig (Meu Sig de ouro), por ser seu preferido filho. Ao completar os estudos secundários, Sigmund Freud já sabia latim, grego, hebraico, alemão, francês, inglês e tinha noções de italiano e espanhol. O nome Schlomo (Salomão) foi-lhe dado em homenagem a seu avô paterno, rabino, que falecera dois meses antes de seu nascimento. Durante mais de 30 anos, Freud participou ativamente do grupo judaico Bnei Brith (instituição secular judaica voltada à defesa dos direitos humanos); casou-se com Martha (também judia), e com ela teve seis filhos. A caçula Ana, foi a única que se tornou psicanalista e a sua mais importante seguidora e sucessora. Freud concluiu seu curso médico aos 25 anos na Universidade de Viena, tendo feito longo aprendizado em neurologia, dedicando-se a pesquisas. Por razões financeiras, renunciou à carreira de pesquisador e tornou-se clínico. Posteriormente, ganhou uma bolsa de estudos para acompanhar, em Paris, os trabalhos de mestre Charcot que já pontificava com a aplicação de técnicas hipnóticas. Anos mais tarde, Freud retornou à França, desta vez para Nancy, para aprofundar-se nos estudos de hipnotismo através das demonstrações de Bernheim. De volta a Viena, passou a empregar a técnica de hipnose em sua clínica privada para ampliar o tratamento dos distúrbios neuropsicológicos - até então empregando-se massagens, clinoterapia (repouso no leito), banhos mornos e medicamentos barbitúricos. Porém, Freud deu-se conta de que era um mau hipnotizador e substituiu tal recurso por técnicas que promovessem uma livre associação de idéias, e lhe possibilitasem um acesso às repressões inconscientes das suas pacientes histéricas. O edifício psicanalítico construído por Freud pode ser desdobrado em cinco áreas: 1. Historiais clínicos; 2. Metapsicologia; 3. Teoria; 4. Técnica; 5. Psicanálise Aplicada. Cabe salientar que Otto Rank, juntamente com Ferenczi e mais tarde W. Reich foram os líderes em busca de novas técnicas diferentes, até certo ponto divergentes das recomendadas por Freud como essenciais. Após longos anos de sofrimento por um câncer do maxilar superior, Freud pediu a seu médico assistente que induzisse sua morte, no que foi atendido e veio a falecer em 23 de setembro de 1939, em Londres. (ZIMERMAN, David E. Vocabulário contemporâneo de psicanálise, Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 155 e ss.)

    • Jung, Carl Gustav

      Nascido no ano de 1875 em uma cidade próxima a Zurique, descendente de pastores protestantes suíços, Jung veio a tornar-se médico, exercendo a psiquiatria na Burgholzli - hospital da Universidade - como assistente de Bleuler, que lhe apresentou os incipientes trabalhos de Freud. Possuídor de uma notável inteligência e espírito de curiosidade, conheceu este em Viena, em 1907, dem que se tornou discípulo. Ambos mantiveram forte ligação, checando a trocar quase 400 cartas entre si até 193, ano em que romperam definitivamente, de forma beligerante. Em 1908, Jung participou do primeiro congresso internacional em Salzburg. No ano seguinte, juntamente com Ferenczi, acompanhou Freud em sua viagem de cinco conferências aos Estados Unidos (de onde Jung voltou sozinho, em 1912, obtendo um pressivo sucesso). Em 1910 foi eleito presidente da IPA em Nurenberg - até por desejo de Freud. Aliás, Freud dispensava atenções especiais a Jung, a ponto de considerá-lo como o delfim da psicanálise, em razão de assim afastar o risco de o movimento psicanalítico correr o risco de ser acusado de ser uma ciência judaica e um gueto de psicanalistas judeus. Na verdade, Carl Jung tinha bases cientiíficas muito diferentes das de Freud e a maioria dos discípulos, e se distinguia das de Freud, mercê de sua experiência muito ampla com psicóticos e seu vasto conhecimento de mitos, simbolismo, literatura e filosofia de várias culturas. Jung nunca aceitou por completo a teoria sexual de Freud, porém durante muitos anos, não houve controvérsias abertas sobre o assunto. Jung percebeu que se aproximava, na realidade de Freud por seu carisma pessoal e sua admiração pessoal pela coragem demonstrada por Freud em seu enfrentamento à ortodoxia dos médicos e da medicina da época. O rompimento definitivo assim ocorreu com a publicação de Jung das obras Metamorfoses da almma e seus símbolos, livro que teve várias reedições e onde discordava totalmente da teoria da libido, concebendo-a não mais como unicamente de origem sexual, mas sim, como a expressão psíquica de uma energia vital. A partir de 1914 Jung veio a fundar o movimento 'Psicologia Analítica', nome que escolheu para definir que o psiquismo não tinha nenhum substrato biológico pulsional. Depois, em 1958, Jung funda, juntamente com os praticantes de seu método, a Sociedade Internacional de Psicologia Anaítica. Dentre as concepções de Jung, as seguintes devem ser destacadas: 1. Trouxe para o primeiro plano o exame da importância da mãe, realçando assim uma influência, na vida da criança, anterior ao complexo de Édipo; 2. Sublinhou a regressão - em virtude do papel da mãe - como um importante anseio neurótico de um retorno à mãe primitiva; 3. Promoveu uma interpretação bem mais extensa do que a de Freud e, contradizendo-o, afirmou que 'em vez de concluirmos que todos os símbolos têm um significado sexual, devemos aceitar que o próprio sexo é algumas vezes usado como símbolo de qualquer coisa'; 4. Em A psicologia do inconsciente, Jung sugeriu que a libido sexual era apenas uma forma de libido primordial, por ele definida como sinônimo de energia indiferenciada e, indo mais além, negou que a sexualidade fosse um fator importante na primeira infância; 5. Pôs em dúvida - quanto ao objetivo da análise, se a recordação do passado e a explicação da presente situação, com base no passado, seria um método adequado. Acreditava haver, além disso, algum planejamento construtivo do futuro da vida do paciente. Introduziu, através do modelo dos arquétipos, a noção de inconsciente coletivo, a qual foi parcialmente utilizada por Frreud em sua teoria a partir da horda primitiva; 7. Gradativamente o pensamento de Jung tornava-se mais místico. Ele postulou na sua teoria dos arquétipos feita em 1919, que sempre existe um lado feminino recalcado do homem - por ele denominado anima - e um lado masculino recalcado da mulher - denominado animus - e que o objetivo da terapia psicanalítica seria a de integrar ambos os lados de forma equilibrada; 8. Postulou uma teoria de tipos caracterológicos, sendo que os principais tipos de caráter o extrovertido e o introvertido. Seus adversários tratavam-no como colaboracionista do nazismo, conforme consta no Dicionário de Psicanálise de E. Roudinesco (1998, p. 424). Carl Gustav Jung faleceu em 6 de junho de 1961. (ZIMERMAN, David E. Vocabulário contemporâneo de psicanálise, Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 235 e ss.)

    • Kohlberg, Lawrence

      Nascido em Bronxville, Nova York em 1927, Lawrence Kohlberg era filho de um rico homem de negócios. Frequentou escolas prestigiosas, mas, ao deixar o colégio, em vez de continuar seu pródigo caminho, ingressou na Marinha Mercante dos Estados Unidos. O dilema moral que se colocava diante de suas ações como marinheiro - como justificar desobediência à lei - apareceria em quase toda a sua pesquisa em psicologia. Algumas das idéias de Kohlberg sobre raciocínio moral remontam a Piaget e Binet. Por exemplo, vários itens dos teses de iteligência de Binet e Theodore eram de natureza moral. Kohlberg esteve menos interessado no julgamento final do que na estrutura subjacente do raciocínio da criança. Além de formular uma explicação sociocognitiva do desenvolvimento moral, desenvolveu um conjunto de marcadores para identificar a etapa do raciocínio moral em que se encontra uma pessoa.Kohlberg indagou qual a relação que existe entre comportamento criminoso e raciocínio moral. Seria o raciocínio moral dos criminosos diferente do nosso? Ele não prendia formular uma teoria do crime, todavia tem havido um interesse compreensível em explorar as implicações de sua teoria para entender a gênese da conduta criminosa. A pertinência de seu potencial é limitada pois Kohlberg estava basicamente preocupado com o raciocínio moral e não com o comportamento moral. Inversamente, um indivíduo bem-ajustado poderá achar que foi socializado para se comportar de uma maneira moralmente louvável, mas talvez não se envolva em altos níveis de raciocínio moral sobre os princípios que sustentam seu comportamento. Num estudo sobre a análise das respostas das crianças a diferentes dilemas levou-o a concluir que o desenvolvimento moral segue uma sequência invariante de três níveis ou etapas morais, cada um compreendendo duas etapas morais distintas. Cada etapa representa um determinado método de pensar e não um determinado tipo de decisão moral. As características definidoras das três etapas e dos três morais de Kolberg são as seguintes:  Nível I - Moralidade pré-convencional: neste nível, a criança se conforma com as regras impostas por figuras de autoridade para evitar a punição ou para obter recompensas pessias; Nível 2 - Moralidade convencional: Neste nível, o indivíduo se esforça para obedecer a regras e normas sociais e assim obter a aprovação dos outros ou manter a ordem social. O elogio e a evitação da culpa substituem recompensas e puniões tangíveis como motivadores da conduta ética. Nivel 3 - Moralidade pós-convencional (ou de princípio) - Neste nível, certo e errado são definidos em termos de princípios amplos de justiça que podem estar em conflito com as leis escritas ou com os preceitos de figuras de autoridade. Outra característica de seu pensamento é que, por razões diversas, o impacto de Kohlberg na psicologia contrasta com a pouca atenção dada a seu trabalho filosófico. Filósofos são da opinião geral que não é evidente que um raciocínio mais avançado produz uma moral mais avançada - uma posição familiar a Kohlberg, porém pouco aceita entre alguns (ou vários) filósofos.Kohlberg faleceu em 1987 relativamente cedo, quando contava com 60 anos. (Fonte: Adaptação de: SHEHY, N. 50 Grandes psicólogos: suas idéias, suas influências. São Paulo: Contexto, 2006. p. 145 e ss.).

    • Lacan, Jacques

      Jacques Marie Emile Lacan nasceu na França em 1901 e faleceu em 1984. Provindo de uma família de classe média, sempre foi um aluno brilhante, tendo-se destacado nas disciplinas de filosofia, teologia e latim. Lacan, esse genial, polêmico e altamente controvertido autor psicanalítico, revoltado com o crescimento da escola norte-americana da Psicologia do Ego, alegava que essa estaria deurpando o verdadeiro espírito da psicanálise. Formou-se em medicina, com especialização em psiquiatra e psicanálise, sempre demonstrou inteligência invulgar e crescente aquisição de sólida cultura e erudição, as quais muitas vezes ele utilizava de forma arrogante. Outra característica de Lacan, além de uma vida afetiva muito complicada, foi sua grande facilidade de promover e ficar envolvido em sérios conflitos com seus pares. Dissentiu da IPA e, em 1963, fundou sozinho a sua própria Escola Freudiana de Paris que, aos poucos, foi sofrendo a dissidência de muitos membros ilustres, alguns dos quais criaram novas escolas. Durante 10 anos, duas vezes por mês, no anfiteatro do Hospital Saint-Anne, Lacan realizava os seus famosos seminários, em sua frequencia muito disputado pela elite intelectual, predominantemente de jovens. Nesses seminários, comentava sistematicamente todos os grandes textos da obra freudiana. Esses seminários, coletados, deram origem à publicação, em 1966, dos 'Escritos'. Em relação a sua obra, os seguintes aspectos merecem ser destacados: quatro foram as vertentes que influenciaram decisivamente o pensamento e a obra psicanítica de Lacan: a Linguística, inspirada nos trabalhos do famoso linguista Saussure, de onde ele extraiu sua concepção de significante e de um inconsciente estruturado como uma linguagem; a verdade antropológica, apoiada no enfoque estruturalista de Levi-Strauss, que serviu de base para a sua noção do simbólico; a filosófica, através da forte influência que sofreu de Heidegger e da obra 'Fenomenologia do espírito', de Hegel; a quarta vertenten, naturalmente, é psicanalítica, fundamentada unicamente numa releitura da obra de Freud. Em 1953, Lacan apresentou o notável trabalho 'Função e campo da fala e da linguagem na psicanálise', também conhecido como 'Discurso de Roma', no qual permeiam elementos de outras áreas como a linguística estrutural, da filosofia e das ciências. Para Lacan, a análise 'não deve ficar reduzida à mesquinharia exclusiva do mundo interno'; pelo contrário, o analista deve dar uma importância muito especial à palavra do paciente - que pode ser cheia ou vazia de significados, de modo que o analista também deve rastrear a cadeia de significantes que está contida no conteúdo, forma e estrutura da linguagem. Quanto à prática clínica, cabe enumerar que Lacan destaca o seguinte: 1. A análise 'não deve ficar reduzida à mesquinharia exclusiva do mundo interno'; pelo contrário, o analista deve dar uma importância muito especial à palavra do paciente' - que pode ser cheia ou vazia de significados, de modo que o analista também deve rastrear a cadeia de significantes que está contida no conteúdo, forma e estrutura da linguagem. 2. Relativamente ao setting, foi abolido o clássico tempo cronológico de uma sessão em torno de 50 minutos, substituído pelo tempo lógico, sem tempo fixo de duração, sendo que a sessão termine quando o analisando atinge o corte simbólico, isto é, sai do registro imaginário e sua palavra vazia passa a ser cheia. 3. Quanto à transferência, Lacan alerta para o risco de o analista poder reforçar, e até eternizar, uma dependência transferencial, constituindo aquilo que Lacan nomeia como SSS, ou seja, Sujeito Suposto Saber; 4. Ao se referir à interpretaçao, Lacan adverte que o uso sistemático da interpretação reducionista ao aqui-agora pode contribuir para uma fixação do paciente no registro imaginário narcisista, com o risco de identificar-se com os desejos do analista. Nos últimos tempos, com sua acentuação numa conduta com matrizes paranóides, era notório que Lacan demonstrava algumas ausências em apresentar-se publicamente, mais que suas costumeiras bizarrices, que já indicavam declínio orgânico, com manifestações neurológicos como uma afasia parcial, surgidas após cirurgia de um tumor maligno de cólon. Ele morreu em 1984 nestas mesmas condições. (ZIMERMAN, David E. Vocabulário contemporâneo de psicanálise, Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 245 e ss.)

    • Luria, Alexander R.

      Alexander Romanovich Luria nasceu em Kazan, uma cidade universitária russa situada a leste de Moscou, em 1927. Era de origem judaica, mas mudanças bruscas no clima político e intelectual devido à Revolução Bolchevique, permitiram que concluísserapidamente sua educação escolar. Ingressou na Universidade de Kazan em 1918. O pai de Luria queria que ele cursasse medicina, mas a ambição de Luria era tornar-se psicólogo. Graduou-se inicialmente em estudos sociais, matriculando-se a seguir em aulas de medicina, ao mesmo tempo em que começava um treinamento em psicologia no Hospital Psiquiátrico de Kazan. Interrompeu os estudos de medicina e assumiu o cargo de assistente de laboratório no Instituto para a Organização Científica do Trabalho, em Kazan, onde investigou os efeitos do trabalho árduo sobre a atividade mental. Isso o levou a Moscou, onde foi escolhido para um cargo inicial no Instituto de Psicologia de Moscou, onde a 'reactologia' enfatizava a importância do estudo sobre o esforço mental numa análise sistemática da atividade motor periférica (p. ex., tempo de reação, preensão, caminhada, levantamento). Levou ali um programa de pesquisa relativo aos efeitos do estresse emocional sobre as reações motoras humanas. Em 1924, Luria conheceu Vygotsky, cujo interesse nos efeitos de doenças nervosas sobre a atividade intelectual provavelmente foi, em parte, responsável pela orientação de Luria em direção à neuropsicologia e em sua motivação em concluir os seus estudos de medicina. Depois de ser aprovado no curso, Luria aproximou-se de N. N. Burdenko, chefe do Instituto Neurocirúrgico de Moscou a fim de conseguir uma residência. Em sua autobiografia, Luria descreveu os dois anos seguintes como os mais produtivos de sua vida. Não tendo grandes responsabilidades lhe trouxeram circunstâncias que lhe deram espaço para elaborar sua própria visão da neuropsicologia dos danos cerebrais. Quando a Rússia entrou na Segunda Guerra Mundial, em 1941, passou a ser oficial médico responsável pela avaliação e reabilitação de soldados com danos cerebrais. Em seus esforços para criar uma psicologia marxista, Luria e outros elaboraram um sistema que procurava relacionar a teoria e o método psicológico à história do desenvolvimento cultural, particularmente seus aspectos econômicos. Luria, durante a década de 1940, foi coagido a implementar em suas atividades a política do Comitê Central do Partido Comunista, e como vários outros que aderiram a perspectivas concorrentes, foi pressionado e renunciou a suas atividdaes. Assim, entre 1937 e 1947, Luria interrompeu seu interesse em entender o desenvolvimento do cérebro e dos processos mais elevados do pensamento. Mas em 1948, foi transferido do Instituto de Neurocirurgia, onde vinha trabalhando há anos, para o Instituto de Defectologia, de Vygotsky. Ali, voltou-s mais uma vez às questões que havia se ocupado no início de sua carreira. Mais tarde foi restituído de seu posto em Moscou, e continuou até praticamente a morte, causada por insuficiência cardíaca em 1977. A visão de Luria da psicologia é semelhante à de Allport, visto que está baseada, em parte, em sua insatisfação com a necessidade de escolher entre a psicologia idiográfica e a uma psicologia nomotética. O ponto forte da visão de Luria concentra-se em três aspectos: 1. Baseia-se em uma formulação teórica explícita da organização do cerébro, embora se deva notar que partes do modelo têm sido subsequentemente contestadas por evidências empíricas; 2. Enfatiza os aspectos qualitativos do desempenho - como alguma coisa é feita, e não só o padrão absoluto do desempenho; 3. É flexível em seu enfoque do diagnóstico de déficits, e quanto a isso se acredita que resulta em maior precisão e em uma descrição mais detalhada dos problemas do paciente.Esses aspectos encontrarm sua expressão clínica mais clara no desenvolvimento da Bateria Neuropsicológica de Testes Luria-Nebraska, de Charles Golden. Essa bateria de testes que consiste em escalas que cobrem um amplo espectro de problemas, mas diferentemente de outros testes, os itens de cada área variavam de modo a testar variações da aptidão, e não uma habilidade específica. O sistema de Luria é às vezes criticado por sua dependência da perspicácia do neuropsicólogo clínico. Desta forma, um clínico talentoso como Luria poderia utilizar o sistema de um modo muito eficiente, conforme se vê nos insights fornecidos por seus estudos de caso inovadores, especialmente aquele de um jovem que tinha memória verdadeiramente excepcional e o de um paciente jovem com traumatismo cerebral. Sua visão (de Luria), de modo geral, não tem vingado fora da Europa. Embora Luria tenha uma extensa publicação ao longo de um período de cinquenta anos, muitos de seus trabalhos em russo ainda são inacessíveis. (Fonte: Adaptação de: SHEEHY, N. 50 Grandes psicólogos: suas idéias, suas influências. São Paulo: Contexto, 2006. p. 168 e ss.).

    • Pavlov, Ivan Petrovich

      Ivan Petrovich Pavlov nasceu na cidade de Ryazan em 1849, região central da Rússia, e era o mais velho dos 11 filhos de um pastor. Sendo o irmão mais velho de família numerosa, teve de desenvolver bem prematuramente a responsabilidade e a disposição para trabalhar muito, mantendo essas características por toda a vida. Disposto a freqüentar a universidade em São Peterburgo para estudar a fisiologia animal, Ivan Petrovich Pavlov viajou centenas de quilômetros a pé. Com a formação universitária, Ivan Petrovich Pavlov passou a fazer parte da inteligêntsia, uma classe emergente e distinta na sociedade russa, distinta da aristocracia e do campesinato. Ivan Petrovich Pavlov formou-se em 1875 e começou a estudar medicina, não para se tornar médico, mas na esperança de seguir a carreira na pesquisa fisiológica. Estudou dois anos na Alemanha e retornou a São Peterburgo para trabalhar como assistente do laboratório de pesquisas. Embora a pesquisa de laboratório fosse o seu principal interesse, raramente ele mesmo conduzia experimentos. Ao contrário, geralmente supervisionava os esforços dos outros. De 1897 a 1936, cerca de 150 pesquisadores trabalharam sob a supervisão de Ivan Petrovich Pavlov, produzindo mais de 500 trabalhos científicos. Ivan Petrovich Pavlov foi um dos poucos cientistas russos a admitir mulheres e judeus em seu laboratório. E. R. Hilgard, na época doutorando na Yale university, assistiu a uma palestra de Ivan Petrovich Pavlov no 9º Congresso Internacional de Psicologia, realizado em New Haven, Connecticut. Ivan Petrovich Pavlov dirigia-se ao público em russo, fazendo uma pausa de vez em quando para que o intérprete apresentasse as observações em inglês. Ivan Petrovich Pavlov foi um cientista até o fim da vida. Faleceu de pneumonia em 1936. O trabalho de Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) sobre a aprendizagem ajudou a transferir a ênfase da visão tradicional do associacionismo - das idéias subjetivas para os eventos psicológicos quantificáveis e objetivos, tais como a secreção glandular e o movimento muscular. Como conseqüência, o trabalho de Ivan Petrovich Pavlov proporcionou a Watson o método pra estudar e tentar controlar e modificar o comportamento. (Scheehy, N. 50 Grandes psicólogos: suas idéias, suas influências. São Paulo: Contexto, 2006. p. 196 e ss.).

    • Piaget, Jean

      Jean Claude Piaget era o primogênito de Arthur Piaget, um professor de literatura medieval da Universidade de Neuchâtel, e Rebecca Jackson. Nascido em Neuchâtel, Suiíça, em 1896, aprendeu as primeiras letras no sistema elaborado por Friedrich Frobel, para uso com crianças pequenas. Tal era a sua ótima performance e reputação que criara que, no início de 1912, Maurice Bedot, diretor do Museu de História Natural de Genebra, ofereceu-lhe um cargo de assistente em malacologia, aos 15 anos. Jean explicou que tinha que declinar o convite, e continuou estudando ciências naturais na Universidade de Neuchâtel e lá concluiu seu doutorado. Um semestre na Universidade de Zurique, onde frequentou palestras de Jung e do eminente psiquiatra suíço Eugen bleuler, despertou-lhe o interesse por psiquiatria e psicanálise. Mudou em seguida para a França e foi trabalhar na École de la rue de la Grange-aux-Belles, uma escola para rapazes criada por Alfred Binet e depois dirigida por Théodore Simon. Em 1921, o psícólogo suíço Edouard Claparède indicou Piaget como diretor de estudos do Instituto Rousseau de Genebra. Dois anos depois, casou-se com Valentine Châtenay e com ela teve três filhos. Em Genebra, recorrendo de sua experiência anterior, utilizou um método quase clínico de inevestigação, baseado em cuidadosas entrevistas com a criança durante o curso de uma tarefa, buscando estudar o desenvolvimento intelectual de seus próprios filhos. Tais observações formaram o núcleo de boa parte da pesquisa empírica. As idéias e formulações guiaram a formulação de sua teoria do desenvolvimento cognitivo das crianças, e também foram vitais à criação de uma nova disciplina chamada 'epistemologia genética', termo cunhado pelo psicólogo norte-americano J. M. Baldwin. Embora a reputação e influência de Paiget tenham vindo de seu trabalho com a psicologia da criança diretamente, para ele, sua principal preocupação estava relacionada à teoria do conhecimento dirigida a sua gênese ou desenvolvimento (daí à 'epistemologia genética'). Em 1955, Piaget fundou o Centro Internacional de Epistemologia Genética, que dirigiu até sua morte. Segundo Piaget, a fim de que uma criança possa se haver com o mundo ao seu redor, deve adquirir um repertório de mecanismos intelectuais que lhe permitirá organizar o pensamento no mundo. Como epistemologista genético, ele se propôs a responder à pergunta sobre como se desenvolve o conhecimento. A visão de Piaget, de um modo resumido é dividido em 4 etapas: a) o estágio sensório-motor (de 0 a 24 meses), onde as crianças constroem uma compreensão do mundo coordenando experiências sensoriais (como ver e ouvir) com ações físicas, motoras; b) no estágio pré-operacional (de 2 a 7 anos), as crianças começam a representar o mundo com palavras, imagens e desenhos, mas falta-lhes a capacidade de desempenhar operações mentais. c) O estágio operacional concreto (que ocorre dos 7 aos 11 anos) está associado à capacidade de pensamento intuitivo, contanto que o raciocínio possa ser aplicado a exemplos específicos ou concretos: por exemplo: os passos necessários para concluir uma equação algébrica. Isto é por demais abstrato para o pensamento nessa fase; d) No estágio operacional formal (dos 11 aos 15 anos) aponta para um mundo que inclui entendimento e explicação baseados em experiências físicas, concretas, mas se desloca na direção de um modo qualitativamente diferente de pensar, baseado na capacidade de abstração de alto nível, teorização e capacidade para resolver problemas com o uso da lógica. A teoria de Piaget tem atraído considerável atenção crítica e proporcionado o ímpeto para rápidos avanços na psicologia do desenvolvimento cognitivo. Embora Piaget esteja fundamentalmente ligado à análise do desenvolvimento do modo de pensar da criança, sua influência em outras áreas da psicologia é em geral subestimada. Por exemplo, o Efeito Hawthorne refere-se a uma importantíssima série de estudos na área da psicologia industrial. Segundo o psicólogo australiano Elton Mayo, em entrevistas diversas com empregados de uma fábrica em Hawthorne - a Western Electric Co. - os métodos de Piaget para entrevistar crianças lhes foram muito úteis no cenário industrial citado. Embora tenha havido algumas controvérsias em torno da explicação de Mayo para o Efeito Hawthorne, a influência de Piaget foi de tal importância que não pode ser diminuída no instrumental profissional de psicólogos industriais durante as décadas de 1930 e 1940. Jean Piaget faleceu em Genebra na Suíça, como professor emérito da Universidade de Genebra, em 16 de setembro de 1980. (Fonte: Adaptação de: SHEEHY, N. 50 Grandes psicólogos: suas idéias, suas influências. São Paulo: Contexto, 2006. p. 202 e ss.).

    • Rogers, Carl R.

      Carl Rogerx nasceu em Oak Park, Illinois (EUA), e era o quarto filho de um total de seis. O pai engenheiro civil; a mãe devota, cultivava um ambiente familiar e religioso intimamente integrado.Sua educação formal começou ao entrar diretamente no segundo ano, pois já sabia ler antes da pré-escola. Aos 12 anos, sua família mudou0se para uma fazenda perto de Chicago, onde passou a adolescência em um ambiente caracterizado pela autodisciplina, ordem e independência. Após graduar-se em Winsconsin, em 1924, casou-se com Helen Elliot, contra a vontade dos pais. Logo depios, fez uma viagem à China e às Filipinas. Ao voltar, frequentou o Union Theological Seminary na cidade de Nova York e mais tarde transferiu-se para o Teacher's College, na Universidade de Columbia, onde se formou em psicologia educacional e clínica. Carl Rogers é mais conhecido por desenvolver um método de psicoterapia caracterizado como não-diretivo ou centrado na pessoa, e por sua pesquisa pioneira sobre o processo terapêutico. Como teórico, Rogers estava preocupado principalmente com o desenvolvimento e crescimento da pessoa. Em consequência, sua teoria da personalidade não é tão estruturalmente explícita quanto muitas outras. Dois conceitos são fundamentais para seu enquadramento téorico: o organismo e o self. O organismo é a criatura física que vivencia o mundo. A totalidade das experiências constitui o campo fenomenal do organismo. Por meio da experiência, uma parte do campo fenomenal se diferencia - isso é o self.  Rogers o define como a 'gestalt conceitual, organizada e coerente, formada pelas percepções das características do 'eu' ou do 'mim' com os outros e com vários aspectos da vida, e mais os valores associados a essas percepções'. O grau de congruência entre o self e o organismo determina a maturidade e o bem-estar psicológico. Rogers é semelhante a Jung e Maslow quando percepe a pessoa orientada na direção do crescimento, auto-realização e cumprimento. Embora muitas das idéias de Rogers agora sejam vistas como relativamente não-controversas, seus primeiros esforços para publicar e dar palestra sobre suas idéias centradas na pessoa atraíram muitas críticas. Em uma época em que não havia nenhum exemplo de pesquisa comparável na psicanálise, ele estava promovendo uma investigação quantitativa e sistemática do proceso terapêutico. No entanto, no final da crreira, introduziu uma advertência pragmática à sua visão sobre a consideração positiva incondicional. As numerosas contribuições de Rogers podem ser assim resumidas: 1. Desenvolveu uma forma de psicoterapia construída em torno de um modelo de crescimento e não de um modelo médico; esse modelo baseia-se na hipótese de que o indivíduo tem dentro de si a capacidade de auto-entendimento e autodirecionamento; demonstra que essas capacidades são manifestadas em uma relação com certas qualidades definíveis; incorpora a visão de que o organismo humano ´e basicamente construtivo e confiável; 2. Formulou uma teoria das condições necessárias e suficientes que iniciam um processo que pode ser definido em uma relação terapêutica e as mudanças de personalidade e de comportamento que ocorrem como resultado desse processo; 3. Desenvolveu uma visão da terapia caracterizada pelos termos 'não-diretiva', 'centrada no cliente' e 'centrada na pessoa'; 4. Levantou o véu de mistério que cobria a psicoterapia e submeteu-a à investigação e ao estudo, registrando as entrevistas terapêuticas; 5. Concluiu vários estudos importantes sobre o processo e o resultado da terapia, e a ligação entre as qualidades da relação e as mudanças que ocorrem; 6. Encorajou a aplicação dos prncípios dinâmicos aprendidos na terapia a várias outras áreas: ensino e aprendizagem; relações matrinomiais; vida familiar; grupos intensivos; administração e gerenciamento; resolução de conflito; desenvolvimento da comunidade. (Fonte: SHEEHY, N. 50 Grandes psicólogos: suas idéias, suas influências. São Paulo: Contexto, 2006. p. 207 e ss.).

    • Rorschach, Hermann
      Nascido em Zurique de uma família protestante da então Turgóvia, manifestou muito cedo um gosto acentuado pelo desenho. Muito hábil no jogo da 'kleksografia' (jogo das manchas de tinta), difundido entre os alunos de sua escola e conhecido desde que Justinius Kremer publicara em 1857 a obra 'Kleksographien', uma série de desenhos obtidos a partir de manchas e poemas inspirados por estas. Depois de alguma hesitação, Rorschach se orientou para a medicina e estudou psiquiatria com Eugen Bleuler e Carl Jung, na clínica do Hospital Burgolzli. Ali se entusiasmou pelas idéias freudianas, iniciando a técnica da expressão verbal. Após viajar a Moscou em idos de 1906 e posteriormente para a Rússia, casou-se com sua então noiva Olga. Como muitos de sua geração pioneira, ele praticou a psicanálise sem ter passado por um divã. Foi em Herisau, nos últimos anos de vida, que redigiu a obra que o tornou célebre: publicada em 1921, sob o título Psychodiagnostik, Rorschach definia o princípio do teste projetivo, destinado a explorar o mecanismo das representações imaginárias da criança e do adulto, fazendo-os falar por associações verbais a partir de manchas. O livro expressava plenamente o verdadeiro fascínio de Rorschach pelo domínio do sonho, das alucinações, do delírio e da loucura. Morreu aos 37 anos das sequelas de uma crise de apendicite, antes de poder ser operado. (Adaptação do Dicionário de Psicanálise, Elisabeth Roudinesco e Michel Plon, Rio de Janeiro, Zahar Editor, 1998. p. 71-673).
    • Skinner, Burrhus Frederick

      Burrhus Frederic Skinner nasceu na cidade de Susquehanna, na Pensilvânia (EUA) a 20 de Março de 1904. Seu pai era um caixeiro-viajante no último ano da Guerra Civil Americana, tendo se estabelecido na empoeirada cidade ferroviária de Susquehanna e onde constituiu família. A mãe de Skinner chamava-se Grace Burrhus Skinner. O mais velho de dois varões, esteve presente quando o irmão Ebbie morreu de aneurisma cerebral aos 16 anos. Relatos autobiográficos descrevem a infância como afetuosa e estável. Sua criatividade nessa fase e a habilidade inventiva levaram-no a projetar um sistema para extrair oxigênio da água do mar. Essa criativdade também foi evidente durante toda a vida adulta. Trabalhou alguns anos como jornalista, na maior parte do tempo escrevendo material sobre problemas trabalhistas, viajando e vivendo uma vida boêmia. Entretanto, passou a se interessar por psicologia, descrevendo o momento em que decidiu seguir a carreira acadêmica citando o dilema de H. G. Wells. Resolveu então voltar para a faculdade, e em Harvard se convenceu de que o behaviorismo, conforme expresso por Watson, era o único caminho para a psicologia avançar. Concluiu ali o mestrado em 1930 e obteve seu doutorado no ano seguintte. Dedicou-se à pesquisa de pós-doutorado até 1936, quando se mudou para Minneapolis a fim de lecionar na Universidade de Minnesota. Foi lá que conheceu e casou-se com Yvonne Blue. Tiveram duas filhas, Julie Deborah. Em 1945, foi indicado pra o departamento de psicologia da Universidade de Indiana. Três anos depois, retornou a Harvard, onde permaneceu o resto da vida. A contribuição de Skinner para a psicologia assumiu a forma de uma revolção inteelectual contra a psicologia acdêmica alemâ, fundada nas idéias de Titchener e Hugo Münsterberg. Sua preferência reflete a tradição norte-americana do pragmatismo associada aos filósofos James e Charles Sanders Peirce, e ao educador John Dewey. O trabalho de Sknner também seguiu o de Pavlov, em seu compromisso com o primado dos dados comportamentais e da análise de organismos individuais, e não de grupos. Quando Hrsley Gantt e Howard Liddell, dois norte-americanos que haviam trabalhado com Pavlov, criaram a Sociedade Pavloviana, Skinner prontamente aceitou o convite para tornar-se membro. Logo depois, ele mesmo seria presidente. Skinner foi um cientista extremamente produtivo. Entre 1958 e 1962, havia mais de vinte experimentos, a maioria com pombos e conduzidos em seus sete dias por semana.Seu trabalho teórico faz três presuposições básicas: o comportamento é (a) regido por leis, (b) pode ser prevista e (c) pode ser controlado. Seus sistema teórico baseia-se no conceito de ambiente operante. O condicionamento operante considera cada organismo como estando envolvido em um processo em que 'opera' subre seu ambiente - começa a fazer o que ele faz. No curso da operação, encontra um tipo especial de estímulo - um estímulo que força (um 'reforçador'). O reforçador tem a capaciddae de incrementar o operante - o comportamento que imediatamente o precedeu. Um comportamento seguido de um reforçador aumenta a probabilidade de se repetir, enquanto um comportamento que não é seguido de um estímulo que força diminui sua probabilidade de recorrência. A maneira como um reforçador é apreentado a um organismo pode variar sistematicamente de acordo com 'programas de reforço', e estes são fundamentalmente importantes para a conservação do comportamento. Skinner então aventou diante desta teoria, que, em humanos, esse mecanismo (de reforço) explica a compulsão para o jogo. A modificação do comportamento é uma técnica terapêutica derivada diretamente das explicações de Pavlov, Wason e Skinner sobre natureza regida por leis, previsível e controlável do comportamento  humano. A modificação do copmortamento, em sua versão simples, envolve o comportamento seletivo de reforço a ser repetido e a extinção de comportamentos indesejáveis. Embora a ténica tenha desfrutado de uma considerável popularidade, no auge do behaviorismo. As variações culturais nas práticas de reforço explicam a variedade de línguas existentes em todo o mundo. A crítica devastadora de Chomsky a essa explicação, feita em 1959 sobre Verbal Behavior (Comportamento Verbal, 1957) de Skinner é, como a própria obra, por si só considerado um clássico. Assim, esta publicação desempenhou importante papel na popularização da alternativa racionalista e, em suas próprias palavras, cartesiana de Chomsky ao estudao da linguagem e da aquisição da linguagem. Apesar de todas as críticas, o legado de Skinner permanece na predominância da visão de que a psicologia diz respeito ao estudo do comportamento explícito e observável, uma opinião amplamenta sustentada até mesmo por muitos psicólogos da tradição cognitiva, que confiam no comportamento observável para indicar e inferir a operação de processos subjacentes. Skinner aposentou-se em 1974, mas continuou ativo até a morte, ocorrida por leucemia, em 1990 lecionando na Universidade de Harvard. (Fonte, adaptação de: SHEEHY, N. 50 Grandes psicólogos: suas idéias, suas influências. São Paulo: Contexto, 2006. p. 218 e ss.).

    • Vygotsky, Lev S.

      Vygotsky foi o segundo de oito filhos de uma família judaica de classe média, tendo crescido em Gomel, perto das fronteiras entre Bielorrúsia, Rússia e Ucrânia. A mãe, Cecilia, era fluente em vários idiomas e apesar de professora, não lecionou durante um período apreciável de tempo. Embora muito interessado em artes e humanidades, o fato dos judeus serem proibidos de ensinar em escolas públicas levou Vygotsky a uma carreira em medicina. Ingressou na escola de medicina de Moscou graças aos seus méritos e à sorte, pois o critério de cotas havia sido alterado para a entradade de judeus.Transferiu-se logo depois de medicina para direito, e cumpriu vários cursos em que Zinaida, uma das irmãs, também se matriculou. Naquela época era possível inscrever-se em mais de uma universidade, e em 1914 ingressou em humanidades na Universidade de Shnavsky - embora tal qualificação o governo não reconhecesse. Nesta aprendeu várias coisas, e sua tese de doutorado foi sobre Hamlet de Shakespere - antes de voltar a Gomel em finais de 1917. O irmão de 13 anos acabou morrendo de febre tifóide no mesmo ano. O próprio Vygotsky foi diagnosticado com tuberculose em 1919, uma doença que o mataria aos 37 anos. Em Gomel, lecionou em diversas instittuições, e criou um laboratório de psicologia numa Escola Normal e escreveu um manual de psicologia para professores do magistério. Nesse período, leu muitas coisas e se familiarizou com os trabalhos de James e Freud. Em janeiro de 1924, em Leningrado, apresentou três artigos no II Congresso de Psiconeurologia. Nesses artigos, argumentou contra a 'reflexologia' de Pavlov como uma psicologia da consciência e a favor da 'reatologia' (o estudo dos esforços mentais conforme refletidos na atividade motora periférica). Vygotsky obteve, com o tempo, um cargo no Instituto de Psicologia Experimental de Moscou e ali conheceu o neuropsicólogo Alexander Luria, à época psicanalista. Nesta fase, obteve sua tese de doutorado sobre a psicologia da arte. Assim como Luria, tinha muitos interesses, que incluíam a 'defectologia', um termo que se refere aproximadamente à educação de crianças com deficiências sensoriais, físicas e de aprendizagem, e ligado à uma versão da reatologia de Konstantin Kornilov, psicólogo da então União Soviética. O trabalho mais influente de Vygotsky é sua conceitualização da representação do conhecimento e a importância das inter-relações entre as influências macro e microssociais. Sua análise é orientada pela importância dos vínculos entre fatores sócio-históricos, conforme refletidos nos sistemas educacionais em que a criança é introduzida, e aqueles mais eminentes, de natureza interpessoal, como as relações entre pais e filhos. Vygotsky tinha a opinião, por exemplo, que a linguagem não é simplesmente uma ferramenta pela qual a atividade mental de um indivíduo, o pai ou a mãe, interage com a de outro, a criança. É um artifício que molda a mudança cultural e integra o ambiente de adultos e crianças. Tal posição sobre a natureza e a função da linguagem em parte reflete a influência de uma posição mais radical, formulada bem antes por Wilhelm von Humboldt. O método construtivista de Vygotsky exige um papel muito significativo para os fatores social e cultural, e este papel é bem mais sofisticado que o determinismo radical defendido por Humboldt. É semelhante ao de Piaget ao afirmar que a aprendizagem e o desenvolvimento envolvem a fusão de novas informações com estruturas existentes do conhecimento e o ajuste de compreensões prévias. Diferentemente de Piaget, Vygotsky considerava o desenvolvimento do pensamento, desenvolvimento cognitivo, como mais do que uma construção progressiva de estruturas complexas ou mais simples. O desenvolvimento cognitivo é um processo sociogenético: executado nas atividades sociais das crianças com adultos que têm o potencial de gerar e conduzir o desenvolvimento. A essência e a singularidade do comportamento humano estão na interseção de ferramentas sociais e signos sociais, especialmente a linguagem. A teoria de Vygotsky baseia-se em quatro grandes princípios: (i) as crianças constroem seu conhecimento do mundo; (ii) o desenvolvimento não pode ser isolado de seu contexto social e cultural; (iii) a aprendizagem pode conduzir o desenvolvimento; e (iv) a linguagem desempenha um papel crucial no desenvolvimento cognitivo.Vygotsky o pensamento e a resolução de problemas em três grupos: alguns tipos de pensamento podem ser desempenhados independentemente pela criança; outros não podem ser desempenhados indepentemente pela criança; outros não podem ser desempenhados mesmo com ajuda. Entre esses dois existem coisas que uma criança pode fazer com assistência. Referiu-se à diferença entre o que uma criança pode fazer com assistência e o que ela pode fazer independentemente como a zona de desenvolvimento proximal (ZDP). A ZDP é fundamental no método de Vygotsky e compreende a sua crença de que a aprendizagem é uma atividade mediada social e culturalmente. A ZDP pode ser vista como a diferença entre o nível real de desenvolvimento de uma criança, conforme determinado por uma maneira independente de resolução de problemas, e seu nível de desenvolvimento potencial, conforme determinado por resolução de problemas sob orientação de um adulto ou em colaboração com pares mais capazes. O desenvolvimento não é nada mais que um processo dialético para dominar ferramentas e recursos culturais. O trabalho de Vygotsky foi fortemente influenciado por sua colaboração com Luria, e incluiu uma série de estudos de comunidades camponesas no Usbequistão. Estes estudos mostraram que os usbeques ou não sabiam ou não queriam categorizar estímulos perceptuais com base nas leis de similaridade da Gestalt. Ao invés disso, preferiam classificar com base nos objetos que achavam que podiam associar às formas. O trabalho de Vygotsky demorou a causar impacto na psicologia européia e norte-americana, e houve várias razões para isto. Primeiro, porque foi proibido de publicar sob o regime soviético até 1956. A reatologia de Kornikov, a reflexologia de Vladimir Bekhterev e o construtivismo de Vygostky eram vistos como não representando adequadamente a psicologia marxista-leninista e foram rejeitados em favor do modelo de Pavlov de funcionamento do cérebro. Segundo, porque após a sua morte aos 37 anos significou uma presença internacional não suficientemente firmada. Por exemplo, conhecia o trabalho de Piaget e fez comentárcios acerca dele em seus próprios textos , mas PIaget só foi tomar conhecimento de Vygotsky no final da carreira. Terceiro, a combinação de tradições psicológicas russa e americana e suas diferenças resultavam em uma série de barreiras ideológicas e terminológicas. Bruner e outros foram importantes por apresentar as idéias de Vygotsky numa festa na casa do neurologista Wilder Penfield. Ficou particularmente surpreso com os paralelos entre suas próprias idéias sobre linguagem e pensamento e as Vygotsky, e incorporou muitas idéias desse autor em sua explicação cultural de uma teoria desenvolvimentista naturalista. (Fonte, adaptação de: SHEEHY, N. 50 Grandes psicólogos: suas idéias, suas influências. São Paulo: Contexto, 2006. p. 250 e ss.).

    • Winnicott, Donald Woods

      Foi uma das maiores figuras da psicanálise de todos os tempos. Nasceu em 1896 em Plymouth, Inglaterra, onde viveu num lar bem estruturado, era o filho caçula entre mais duas irmãs. Formou-se em medicina, iniciando como pediatra bem-sucedido, especialidade que exerceu durante quarenta anos, tendo tratado mais de 60 mil casos. Neste período, já evidenciava sua preocupação com os aspectos emocionais dos seus pequenos pacientes na interação com as respectivas mães. No mesmo de sua formatura em medicina (1923), Winnicott iniciou sua análise com J. Strachey, a qual se prolongou por 10 anos. Sua supervisão psicanalítica foi com Melanie Klein durante alguns anos. Winnicott tinha verdadeira paixão pela infância, como mostra o relatório da Pequena Piggle, publicado após sua morte. Essa menina tinha dois anos quando foi paciente de Winnicott, e ele a viu durante 3 anos, tendo feito sessões consideradas como memoráveis. Foi o fundador da psicanálise de crianças na Grã-Bretanha, antes da chegada a Londres de Melanie Klein, numa época em que praticamente só terapeutas mulheres dedicavam-se ao tratamento com crianças. Divorciado da primeira mulher, Alice, uma artista ceramista, Winnicott casou-se com Clare, uma assistente social que veio a tornar-se psicanalista e tendo feito sua análise com M. Klein. Por ocassião das 'Controvérsias' acontecidas no seio da Sociedade Pscianalítica Britânica no período de 1943 a 1944, Winnicott resolver ficar com o Grupo dos Independentes. As maiores fontes inspiradoras de Winnicott foram Freud, Klein e o biólogo Darwin, cuja teoria da seleção natural indizu-o à concepção de que um bebê depende fundamentalmente de um ambiente facilitador para sua sobrevivência e estruturação psíquica. Publicou seu primeiro trabalho em 1936, no qual estudou a relação entre os conflitos emocionais e os transtornos da alimentação. Aos poucos, foi revelando uma predileção por pacientes psicóticos, borderline e adolescentes com conduta anti-social. A obra total de Winnnicott consta de mais de 200 títulos, contidos em quatro livros, cujos principais conceitos são apontados no que segue.Em 1945, Winnicott publica seu clássico livro 'Desenvolvimento emocional primitivo', no qual propõe que a maturação e o desenvolvimento emcional da criança processam-se em três etapas: 1. Integração e personalização; 2. Adaptação à realidade; 3. Crueldade primitiva. Em 1951, surgem os estudos de Winnicott relativos aos fenômenos, espaços e objetos transicionais. Em 1958, Winnicott publica o seu artigo 'A capacidade para estar só', no qual revela seu gosto pelo emprego de conceituações paradoxais. Sua importante concepção se refere à capacidade da criança de ficar só quando mais a mãe está presente, porém uma invisível e recíproca confiança básica mantém-nas unidas. No ano de 1960, há um marco siginificativo na obra de Winnicott, o qual então publica dois dos seus mais importantes trabalhos: um é 'A teoria paterno-filial', onde define o papel da mãe no desenvolvimento emocional do filho, e descreve o estado psicológico da preocupação (ou devoção) materna primária, desenvolve as funções da mãe como ego auxiliar, e como uma função holding. O segundo trabalho é 'Deformação do ego em termos de um verdadeiro e um falso self'. Neste, Winnicott expõe que quando as falhas ambientais ameaçam sua continuidade existencial, a criança se vê obrigada a deformar seu verdadeiro 'self' em prol de uma submissão às exigências ambientais, notadamente dos pais, o que leva à construção de um falso self. Em 1971 publica o livro 'O brincar e a realidade' e neste sobressai o artigo 'O papel de espelho da mãe e da família', no qual Winnicott tece novas considerações acerca do olhar da mãe na (des)estruturação do self do filho. Sofrendo de problemas cardíacos desde 1948, Winnicott falece subitamente em 1971, com então 74 anos, sem deixar filhos que não os representados pelo legado de sua magnífica obra e uma legião de seguidores. (FONTE: ZIMERMAN, David E. Vocabulário contemporâneo de psicanálise, Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 433 e ss.)

  • Grandes autores influentes da Filosofia
    Autores consagrados da fisolofia que influenciaram o campo da Psicologia e Psicanálise.
    • Adorno, Theodor W.

      De origem judaica, Theodor Wiesengrund Adorno nasceu em 11 de setembro de 1903 em Frankfurt, Alemanha. Estudou filosofia, sociologia, psicologia e música nas Universidades de Frankfurt e Viena. Em 1924, travou amizade com Alban Berg, estudando composição musical sob a sua orientação. Devem-se a Adorno numerosos trabalhos de musicologia, que ocupam um lugar importante em sua obra escrita, ao lado de seus trabalhos sociológicos e filosóficos. Em 1930, Adorno iniciou uma relação de muitos anos com o Instituto para a Investigação Social (Institut für Sozialforschung), de Frankfurt, em estreita colaboração com Max Horkheimer. Adorno e Horkheimer são considerados os dois principais expoentes da chamada 'Escola de Frankfurt'. Em 1951, Adorno apresentou sua 'Habilitationsschrift' (sobre Kierkegaard) a Paul Tilich. Em 1933, o governo nazista privou-o de sua venia legendi. Ela passou vários anos na Inglaterra, especialmente no Merlon College, de Oxford. Em 1938, mudou-se para Nova York com o objetivo de dar continuidade aos trabalhos do Instituto. Em 1949, regressou à Alemanha e, desde 1951 até sua morte, lecionou filosofia e sociologia na Universidade de Frankfurt, encabeçando o mencionado Instituto. Adorno examinou criticamente a marcha para a intimidade e a subjetividade preconizada por Kierkegaard. Paradoxalmente, essa marcha leva, segundo Adorno, à abstração como à reificação, já que foge da história real. Por outro lado, a idéia kierkegaardiana de subjetividade expressa a condição social e histórica da qual ao mesmo tempo, pretende escapar (o que, de resto, é típico de toda ideologia). De modo similar, o 'matematismo' e o 'absolutismo lógico' de Husserl são uma fuga do tempo histórico concreto e uma entrega ao idealismo que exprimem determinada realidade social. Adorno opôs-se a todo individualismo abstrato, isto é, a toda noção de indivíduo alheia a seu componente social, mas ao mesmo tempo se opôs à dissolução do indivíduo no social, já que nessa dissolução desaparece seu caráter concreto. O único modo de evitar a possível queda dupla na subjetividade e no abstrato consiste, segundo Adorno, na adoção de um método dialético. Este é de tipo hegeliano, mas, simultaneamente, se opõe a Hegel na medida em que rejeita o conteúdo de sua ontologia. Adorno adotou a teoria crítica, também exposta e desenvolvida por Horkheimer. As posições desses dois autores diferem em vários pontos, tanto filosóficos como políticos; no que tange a este último aspecto, considera-se que Adorno ocupou na Escola de Frankfurt uma postura 'centrista' entre Horkheimer e Marcuse. O pensamento de Adorno é, de qualquer maneira, mais manifestamente dialético que o de Horkheimer. È também menos sistemático ou, em todo caso, menos determinado por considerações de caráter filosófico. Mais ainda que Horkheimer, Adorno faz a crítica das ideologias e inclui nestas as teorias filosóficas, que expressam situações e ao mesmo tempo frustrações sociais. Em termos específicos, Adorno denuncia em duas direções de pensamento aparentemente contrárias - a 'ontologia' e o 'positivismo' - uma raiz comum: ambas são dogmáticas. O mesmo acontece, porém, com o materialismo dialético ortodoxo. Em última análise, todas essas correntes se tornam vítimas de um subjetivismo idealista, ignorante da realidade (ignorante até mesmo do que possa haver de fecundo no idealismo como formulação clara do problema da apropriação do objeto por parte do sujeito). Desde a Dialética do Esclarecimento, Adorno insiste no caráter mitológico ou mitologizante do pensamento filosófico e até de todo pretenso pensamento dialético. Contra a dialética 'positivista', Adorno propõe uma 'dialética negativa'. As dialéticas inautênticas, de caráter meramente abstrato e fundadas em 'fases' ou 'etapas' que se sucedem uma à outra de modo quase mecânico. A meta última dessas dialéticas foi a mesma da 'teoria tradicional': o domínio. Mas ao dominar, ou procurar dominar, a Natureza e o meio, o homem terminou por transformar-se ele mesmo em objeto de seu próprio domínio, isto é, reificou-se e alienou-se. Adorno questionou-se amiúde sobre como foi possível que as ideias de progresso e de emancipação ou libertação tenham conduzido ao oposto: à escravidão, seja em nome de uma tecnologia refinada ou de uma doutrina dogmática. Isso ocorreu porque nesse tipo de ideias de se esqueceu o fato de que 'a história universal deve construir-se e negar-se'. É necessário, pois, ao fazer funcionar a dialética negativa, criticar a fundo toda filosofia e mesmo toda utopia, as quais tendem a ser 'positivas' na medida em que continuam sendo doutrinárias. Uma verdadeira utopia é, de acordo com Adorno, 'inefável': a utopia é uma sociedade não-repressiva em que deixa de ser necessário dissertar sobre a utopia. A dialética negativa exclui toda conceptualização definitiva e leva em conta o movimento incessante do pensamento ao qual nenhuma alternativa pode satisfazer. A própria lógica se transforma então em lógica dialética, em que a contradição se torna objetiva. Curiosamente, o exercício da lógica dialética, que passa por cima de toda categorização, leva a poder comparar a teoria filosófica impulsionada pela dialética negativa com uma obra de arte, a qual nada diz propriamente sobre a realidade. Representar os antagonismos sociais não é conceptualizá-los, mas representá-los mimeticamente, isto é, mediante a arte de sua reflexão na estética filosófica. Só assim se pode 'falar' da realidade social e de sua crítica. Isso é distinto tanto de um materialismo dialético rígido como de uma filosofia da práxis. A negatividade dialética rejeita toda identificação, toda predicação, só com isso é possível atingir uma libertação. Adorno faleceu no dia 6 de agosto de 1969, por problemas cardíacos. Bibliografia em alemão: Kierkegaard, Konstruktion des Aesthetischen, 1933, ed. rev. 1966 (Kierkegaard. Construção do estético); Dialektik der Aufklärung, 1947 - com Max Horkheimer (Dialética do Esclarecimento, 1985); Zur Metakritik der Erkenntnistheorie, 1956 (Para a metacrítica da teoria do conhecimento); Minima moralia, 1951 (idem, trad. bras., 1993); Drei Studien zu Hegel, 1963 (Três estudos sobre Hegel), são uma coleção de ensaios desde 1957, e inclui: 'Aspekte der Hegelschen Philosophie' (Aspectos da filosofia de Hegel) e 'Erfahrungsgehalte der Hegelschen Philosophie' (Níveis da experiência da filosofia hegeliana); Eingriffe, 1963 (Interferências); Jargon der Eigentlichkeit. Zur deutschen Ideologie, 1964 (Jargão da autenticidade. Para a ideologia alemã); Negative Dialektik, 1966 (Dialética Negativa); Aesthetische Theorie, 1970 (Teoria aestética); Das Elend der kritischen Theorie, 1970 - com Habermas e Marcuse (A miséria da teoria crítica); Erziehung zur Mündigkeit, 1970 (Educação para a maturidade); Philosophische Terminologie. Zur Einleitung, 1973 (trad. esp.: Terminologia filosófica, 2 v., 1973-1976). Entre seus estudos de musicologia, mencionamos: Philosophie der neuen Musik, 1949 (Filosofia de uma nova música); Prismen. Kulturkritik und Gesellschaft, 1955 (Prismas, crítica cultural e sociedade); Dissonanzen, 1956 (Dissonâncias); Klangfiguren, 1959 (Figuras de som); Einleitung in die Musiksoziologie, 1962 (Introdução à sociologia da música). Bibliografia em Português: Consignas. Buenos Aires: Amorrortu, 1973. (Biblioteca de filosofía, antropología y religión) - em espanhol. Teoria estética. São Paulo: Martins Fontes, 1982. (Arte & Comunicação; 14). Terminologia filosófica. Madrid: Taurus, 1983. 2 v. (em espanhol). Notas de literatura. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1991. (Biblioteca tempo universitário; 36). Minima moralia: reflexões a partir da vida danificada. 2. ed. São Paulo: Ática, 1993. (Leituras afins). Palavras e sinais: modelos críticos 2. Petrópollis: Vozes, 1995. Prismas: crítica cultural e sociedade. São Paulo: Ática, 1998. (Temas. Sociologia e crítica cultural; v. 64). Indústria cultural e sociedade. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004. (Coleção Leitura). Educação e emancipação. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. ADORNO & HORKHEIMER. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, c1985; Sobre música: Filosofia da nova música, 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1989. (Estudos; 26). Introdução à sociologia da música: doze preleções teóricas. São Paulo: Ed. UNESP, 2011. (Fonte: MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia - Tomo I (A-D). São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 52-54).

    • Arendt, Hannah

      Hannah Arendt, filósofa alemã de origem judaica, nasceu em 14 de outubro de 1906 em Linden-Limmer, hoje bairro de Hanôver, na Alemanha. Estudou com Karl Jaspers e Heidegger. Doutorou-se com uma tese sobre o conceito de amor em Santo Agostinho. Tendo imigrado inicialmente para França e depois para os Estados Unidos (1941), tornou-se professora na New School of Social Research de Nova York, onde lecionará até sua morte em 1975. O trabalho filosófico de Hannah Arendt abarca temas como a política, a autoridade, o totalitarismo, a educação, a condição laboral, a violência, e a condição de mulher. Notabilizou-se também por suas reflexões sobre a situação do mundo atual e sobre as crises que marcam nossa época: crise da religião, crise da tradição filosófica e a crise da autoridade política. Na filosofia política, é importante sua análise do totalitarismo, que interpreta como resultante precisamente da crise de autoridade. Como saída para essas crises, propõe a retomada de algumas características básicas dos movimentos revolucionários modernos como a Revolução Americana e a Francesa, em que o sistema de conselhos toranava as decisões políticas mais democráticas e participativas. 'A Condição Humana', publicado em 1958, é considerado seu livro mais ambicioso, e aborda as manifestações mais elementares da condição humana, como uma dicussão do labor, do trabalho e da ação. Obras publicadas em Português: O sistema totalitário. Lisboa: Dom Quixote, 1978; O Conceito de Amor em Santo Agostinho: ensaio de interpretação filosófica. Lisboa: Instituto Piaget, 1997; A vida do espírito: o pensar / o querer / o julgar. 4. ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará,  2000;  Compreensão política e outros ensaios: 1930-1954. Lisboa: Relógio D`Água, 2001; Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 2009; Sobre a revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 2011; A condição humana. 11. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011; O homem em tempos sombrios. Lisboa: Relógio D`Àgua, s. d;  A Crise da República. São Paulo:  Perspectiva, s.d.; O que é a política? Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, s.d. Obras publicadas em Alemão e Inglês: Der Liebesbegriff bei Augustin. Versuch einer philosophischen interpretation. Berlin: Nachdruck L. Lütkehaus, 1929; Sechs essays. Heidelberg: Lambert Schneider, 1948; _____ (trad.). The diaries of Franz Kafka: 1914-23. New York: Schoken, 1949; The burden of our time. London: Secker & Warburg, 1951; The origins of totalitarianism. New York: Harcourt, Brace and Co., 1951; Elemente und ursprünge totaler herrschaft. Frankfurt / Main: Europäische Verlagsanstalt, 1955; ARENDT, H. & BROCH, H. Dichten und erkennen:  essays, bd. 1. Zürich: Rhein-Verlag, 1955; ARENDT, H.; BERADT, C. (trad.). Fragwürdige Traditionsbestände im politischen denken der gegenwart vier essays. Frankfurt/Main: Europaïsche Verlagsanstalt, 1957; Die krise in der erziehung. Bremen: Angelsachsen-Verlag, 1958; Die ungarische revolution und der totalitäre Imperialismus. München: R. Piper, 1958; Elemente totaler herrschaft.  Frankfurt / Main: Europäische Verlagsanstalt, 1958; Rahel Varnhagen: the life of a jewess. London: Institute by the East and West Library, 1958; JASPERS, K.; ARENDT, H. Wahrheit, freiheit und friede. München: R. Piper, 1958; The human condition: a study of the central dilemmas facing modern man. New York: Doubleday, 1959; Vita activa. Stuttgart: W. Kohlhammer, 1960; Von der Menschlichkeit in finsteren Zeiten. Gedanken zu Lessing. Hamburg: Hauswedell, 1960; Between past and future: six exercises in political thought. New York: Viking Press, 1961; ARENDT, H.; JASPERS, K. The great philosophers. The foundations: the paradigmatic individuals Socrates, Buddha, Confucius, Jesus [and] the seminal founders of philosophical thought Plato, Augustine, Kant. London: Hart-Davis, 1962; Über die revolution. München: R. Piper, 1963; ARENDT, H.; GRANZOW, B. (trad.). Eichmann in Jerusalem: ein bericht von der banalität des bösen. München: R. Piper, 1964; Macht und gewalt. München: R. Piper, 1970; Walter Benjamin, Bertolt Brecht: zwei essays. München: R. Piper, 1971; Wahrheit und Lüge in der politik: zwei essays. München: R. Piper, 1972; Die verborgene tradition: Acht essays. Frankfurt: Suhrkamp, 1976; ARENDT, H.; FELDMAN, R. H. (ed.). The Jew as pariah: jewish identitity and politics in modern age. New York: Grove Press, 1978; The life of the mind. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1978; ARENDT, H.; BEINER, R. (ed.). Lectures on Kant's political philosophy. Chicago: University of Chicago Press; Brighton: Harvester press, 1982; Menschen in finsteren zeiten. München: Piper, 1989; ARENDT, H.; GEISEL, E.; BITTERMANN, K. (eds.). Israel, Palästina und der Antisemitismus. Berlin: Wagenbach, 1991; Besuch in Deutschland. Berlin: Rotbuch, 1993; ARENDT, H.; KOHN, J. (ed.). Essays in Understanding 1930-1954. New York: Harcourt, Bruce & Co., 1994. (Fonte: JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991, p. 24)

    • Bergson, Henri

      Nasceu em Auteuil, região de Paris, em 18 de outubro de 1859, filho de uma família judia, de mãe inglesa e pai polaco. Foi professor nos Liceus de Angers (1881), Clermond-Ferrand (1883-1885), Liceu Henri IV de Pari (1889-1897), École Normale Supérieure (1897-1900) e Collège de France (a partir de 1900). Encontrou o primeiro ponto de apoio de suas ideias no positivismo espiritualista de Lachelier e na análise de Boutroux sobre a contingência. Sua adesão inicial às teses de Spencer contudo, e o reconhecimento da evolução da realidade, suscitavam de imediato a questão de saber por que a realidade não evoluiu já; portanto, a pergunta acerca da utilidade do tempo. O tempo não fazia nada no sistema de Spencer. Contudo, 'o que não faz nada não é nada', e daí que o tempo seja o que impede que tudo tenha sido dado de uma vez. A filosofia de Bergson é, pois, de imediato, uma continuação das tendências que, ao oporem-se ao positivismo, buscam sua superação por meio de uma assimilação de seu conteúdo mais valioso. Por meio do 'positivismo absoluto' de Husserl não se reduz a filosofia bergsoniana a uma repetição de fantasias românticas; trata-se, desde sua raiz, de um novo método e de uma nova orientação. O que Bergson encontra na inteligência, o que o exame dos dados imediatos da consciência evidencia com toda a clareza é não tanto uma incapacidade mas uma insuficiência. A inteligência opera sobre a realidade por meio de esquemas: ela faz dessa realidade, que é algo perpetuamente móvel, ago real e concreto, um conjunto de elementos imóveis, espaciais, separados. Esta tendência da inteligência é claramente evidente para a ciência natural, que transforma o movimento numa sucessão de imobilidades, que faz do tempo, desse fluir perpétuo, uma série de momentos distintos. Ora, esses atos de inteligência são inoperantes se, em vez de um esquema, pretende-se compreensão da própria realidade. A filosofia - que tem, segundo Bergson, a missão de dirigir-se ao imediato e originário, aos dados imediatos da consciência - não pode portanto, considerar a conceituação mais que um falseamento da verdadeira realidade. (Fonte: MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia - Tomo I (A-D). São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 295-299).

    • Deleuze, Gilles

      Gilles Deleuze nasceu em 18 de Janeiro de 1925 em Paris, e começou a desenvolver seu pensamento filosófico ao longo de comentários a outras filosofias e a outras versões de mundo (Nietzsche, Kant, Bergson, Spinoza, Proust, Sacher-Masoch). Em sua obra sobre a repetição e a diferença, ele acentuou a oposição a toda mediação de tipo hegeliano em favor de múltiplas diferenciações e aspectos fragmentários. Um livro de filosofia pode transformar-se desse modo 'numa espécie muito particular de romance policial, por um lado, e de ficção científica, por outro': os conceitos devem intervir para resolver situações locais. Seguindo a expressão de Nietzsche, Deleuze buscou novos meios de expressão filosófica. A Lógica do sentido é 'um ensaio de romance lógico e psicanalítico' com 34 séries de 'paradoxos arbitrários'; se há algum vínculo entre elas, consiste na variação imprevisível de elementos. É como se a trama de um tecido desigual em que aparecem as imagens do puro devir, das superfícies, das dualidades, do jogo ideal, do sem-sentido, do problema moral nos estóicos, da univocidade, da linguagem, da oralidade, da sexualidade, do fantasma, das aventuras de Alice etc. O que aparece é o não-ensinável, os vazios da razão. Não é o sonho da razão o que engendra monstros, mas a racionalidade insone. Por isso, é preciso crivar a razão de buracos e cortar todas as árvores genealógicas, seguir a lei de não obedecer à lei. A filosofia se salva, se é necessário salvá-la, na perversão. A perversidade e a loucura conscientes mostram os sistemas filosóficos como jogos de superfícies e profundidades (ou de superfícies-profundidades) e de desejos-significantes. Contra toda aspiração à profundidade, que se desejou expressar no escrito, Deleuze destaca o primado da superfície, o domínio do oral. A filosofia, ou os fragmentos de filosofia, serve para a destruição da filosofia, da cultura e da psicanálise. Deleuze caminha assim para uma espécie de 'esquizo-análise' no âmbito da qual se efetua uma desarticulação de todos os conceitos básicos da cultura moderna, e em particular uma 'desedipidização' do insconsciente. Trata-se de ver, segundo aponta Deleuze, como tudo caminha, como funciona 'a máquina'. A história aparece como o funcionamento de 'máquinas', a última das quais é a máquina do Édipo familiar e capitalista; a história é uma aventura da 'Esquize', que deve ser liberatada de todas as forças de repressão, regressando (talvez) a uma razão pré-racional, sem cisões. Deleuze dedicou também diversos estudos à filosofia da arte (em particular à literatura, à pintura e ao cinema) e preparou monografias sobre alguns grandes autores da história da filosofia (Hume, Nietzsche, Kant, Spinoza, Bergson, Foucault, Leibniz). Nestes últimos trabalhos, ele não persegue uma reconstrução historicista, mas pretende sempre desvelar as questões que subjazem inexpressas às posições dos diversos filósofos. Deleuze faleceu de um câncer nos pulmões em 04 de novembro de 1995. Bibliografia em Português: Nietzsche e a filosofia. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1976. (Coleção Semeion); Foucault. São Paulo: Brasiliense, 1988; A dobra: Leibniz e o barroco. Campinas: Papirus, 1991; Crítica e clínica. São Paulo: Editora 34, 1997; Diálogos (em colaboração com Claire Parnet). São Paulo: Escuta, 1998; Bergsonismo. São Paulo: Editora 34, 1999; A filosofia crítica de Kant. Lisboa: Edições 70, 2000. (O Saber da Filosofia; v. 3); Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 2000. 5 v. (em co-autoria com Félix Guattari); Proust e os signos. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006; O que é a filosofia? 2. ed. Rio de Janeiro: Editora 34, 2007 (em co-autoria com Félix Guattari); Conversações: 1972-1990. São Paulo: Editora 34, 2007; A lógica do sentido. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2009. (Fonte: MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia - Tomo I (A-D). São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 656-657). 

    • Dewey, John

      John Dewey nasceu em Burlington (Vermont) em 1859 de uma modesta família. Como seu irmão mais velho, se graduou na Universidade de Vermont em 1879. Dewey decidiu que ele não era preparado para trabalhar num emprego do ensino primário ou secundário. Depois de estudar com George Sylvester Morris, Charles Sanders Peirce, Herbert Baxter Adams, e G. Stanley Hall, Dewey recebeu seu Ph.D. da Escola de Artes e Ciências da Universidade Johns Hopkins. Em 1884, aceitou um cargo de professor na Universidade de Michigan (1884-1894), com a ajuda de George Sylvester Morris. Sua dissertação inédita foi intitulada ' The psychology of Kant.'. Lecionou em seguida na University of Chicago (1894-1904) e na Columbia University (Nova York). Influenciado em parte pelo idealismo alemão, especialmente pelo hegelianiso - que representa para Dewey a 'outra face', a sistemática e uificadora de seu pensamento, orientado sobretudo para a mobilidade da experiência, o que levou a superar as divisões do real subjacentes na herança da cultura da Nova Inglaterra -, ele não tardou a ser inscrito, pela filosofia de James e pela necessidade de outros métodos e vias para a realização de seus propósitos de reforma e 'reconstrução', na 'nova filosofia' - uma filosofia que, em sua opinião, distingue-se da tradicional não apenas por considerar a experiência como realidade central, mas também, e muito especialmente, pela nova inflexão que dá a essa mesma experiência. O próprio Dewey, além disso, expôs numa breve autobiografia intelectual os 'motivos' capitais que moldaram ou orientaram seu pensamento. Em primeiro lugar, a imporância atribuída à teoria e prática da educação. Em segundo lugar, o desejo de superar o dualismo entre 'ciência' e a 'moral' por meio de uma lógica que seja um 'método de investigação efetiva' e não rompa a continuidade das diversas regiões da experiência. Em terceiro, a célebre influência de James. Por fim, a intuição da necessidade de uma integração do pensar que compreenda os problemas desenvolvidos pelas ciências sociais e permita resolver ao mesmo tempo as situações derivadas de tais problemas. A insistência na experiência só adquire sentido a partir dessas bases, pois a experiência não é, para Dewey, o meramente experimento por um sujeito, e menos ainda o que este experimenta a fim de adquirir um saber, mas sim o resultado de uma relação que para o sujeito tem como termo ao mesmo tempo oposto e complementar com o objeto e o meio, mas que pode ser concebida em sua maior generalidade como relação entre objetos, como sua forma própria de manter uma conexão. O ponto de vista 'biológico' de Dewey não é, de acordo com isso, senão uma consequência de sua ampla noção da experiência, noção ampla por sua compreensão, mas não no sentido de que constitui o objeto de um absoluto. Dewey é 'tecnicamente' um filósofo empirista, ainda que, de fato, o curso de seus raciocínios se ediifique muitas vezes ao longo de uma dialética. Em todo caso, a filosofia postulada por ele é uma filosofia que renuncia a todo absoluto, que procura averiguar em cada processo a múltipla trama de relações entre os meios e os fins de que está composto, e que não se limita a considerar o instrumentalismo pragmatista como simples método, tal como ainda pretendia James. Apenas dentro desse quadro é possível então compreender o que Dewey entende por naturalismo. Dewey tende ao concreto, isso, porém não só em virtude de um postulado filosófico, mas como resultadado de uma crítica da cultura moderna, cujo intelectualismo parcial Dewey deseja corrigir em todas as suas dimensões, particularmente nas educacionais e sociais. Sua teoria do pensamento, seu pragmatismo e seu instrumentalismo não têm, em última análise, outro propósito. Dewey parte do reconhecimento de que o homem se sente inseguro no mundo e busca algo permanente e estável. Tal permanência lhe é dada de múltiplas formas no decorrer da história: por ritos mediante os quais ele crê propiciar-se das forças da Natureza, pelas artes com que domina essa mesma Natureza, e também pelos objetos tradicionais do saber e da filosofia, por essa atividade filosófica que busca o imóvel por detrás da contingência e da mudança. Todo conhecimento é um instrumento forjado, segundo Dewey, pela vida para sua adaptação ao meio, e por isso o pensar não começa, como acreditava o racionalismo clássico, com premissas, mas com dificuldades. O que o pensar busca não é uma certeza intelectual, mas uma hipótese que se torne verdadeira mediante o resultado e a sansão pragmática. A noção de verdade, tão próxima da de James, é consequência da substituição do conceptualismo do conhecer por um funcionalismo e um operacionismo do pensar. O instrumentalismo de Dewey pretende justificá-lo de um modo concreto e não por qualquer absoluto transmundano. Por isso, o pensamento e teoria são elementos imanentes à vida humana, 'programas' que o homem forja para responder a situações futuras. A orientação para o futuro, tão vigorosa em Dewey, não se limita porém, à ciência e a filosofia: ela impregna todo o esforço social e educativo desse pensamento e é como o norte para o qual se dirigem todos os seus pensamentos. A busca do concreto, contudo, conduziu Dewey nos últimos tepos, a uma retomada de sua primitiva influência hegeliana: sua inclinação para a metafísica, que se torna tão patente nos últimos trabalhos sobre questões lógicas, não desmente a concepção pragmática e instrumentalista em torno da qual gira sua teoria do pensar, mas a torna ainda mais vinculada a certas correntes do existencialismo metafísico e a todos os esforços últimos para conseguir uma unidade da razão com a vida, pois isso é a única coisa que pode terminar com o divórcio da teoria e da prática tão característico da filosofia clássica e do intelectualismo moderno, o que pode levar a uma vida harmoniosa que é para Dewey o ideal último da educação. John Dewey faleceu em 1º de junho de 1952, aos 92 anos, em Nova York. Obras publicadas: Psychology, 1886; Outlines of a critical theory of Ethics, 1891; The school and society, 1900; Studies in logical theory, 1903; Experience and objective idealism, 1907; Ethics (em colaboração com J. H. Tufts), 1908; The Influence of Darwin on philosophy and other essays, 1910; How we think, 1910; Brief studies in realism, 1911; Democracy and education, 1916; Essays in experimental logic, 1916; The need for recovery in philosophy, 1917; Reconstruction in philosophy, 1920; Human nature and conduct: an introduction to social psychology, 1922; Experience and nature, 1925; The public and its problem, 1927; The quest for certainty, 1929; Individualism, old and new, 1930; Philosophy and civilization, 1931; A common faifh, 1934; Art as experience, 1934; Liberalism and social action, 1938; Freedom and culture, 1939; Theory of valuation (International Encyclopedia of Unified Science, 11,4), 1939; Problems of men, 1946; Knowing and the known, 1949 (em col. com A. P. Bentley); Essays in experimental logic, 1954; Philosophy, psychology and social practice, 1963. (FONTE: MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia - Tomo I (A-D). São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 710-712).

    • Foucault, Michel

      Michel Foucault nasceu em Poitiers em 15 de Outubro de 1926. Foi professor do Collège de France a partir de 1970. É comum considerar Foucault um dos principais representantes do estruturalismo francês. Embora o pensamento de Foucault se encaixe melhor no estruturalismo que em qualquer outro movimento filosófico contemporâneo, e embora Foucault esteja de acordo com os estruturalistas ao recusar-se a ater-se - ou deter-se - aos fenômenos superficiais de que se ocupam habitualmente os historiadores e cultivadores das ciências sociais e humanas, há consideráveis diferenças entre a noção de estrutura em autores como Lévi-Strauss e Roland Barthes e o tipo de indagação feita por Foucault em seus estudos da história da loucura e da origem da clínica. Os trabalhos de Foucault sobre a arqueologia das ciências humanas, sobre a arqueologia do saber e sobre a ordem do discurso proporcionam a base filosófica daquilo que foi chamado seu estruturalismo e permitem ver até que ponto este último nome não é completamente adequado para descrever seus trabalhos; de todo modo, podem dar uma idéia dos fundamentos daqulio que Jean Piaget chamou, ao referir-se a Foucault, de 'um estruturalismo sem estruturas'. Embora Foucault se apóie em dados históricos para expressar suas idéias, ao mesmo tempo nega que as idéias, enquanto suportos modos de ver e representar, ou figurar, ou simbolizar o mundo, sejam função da história. Não sequer função de um ser humano, que seria sujeito da história. A rigor, não existe para Foucault tal sujeito. O que é assim chamado é uma realidade instalada em uma episteme, algo que se 'desliza', por assim dizer, no 'discurso' da episteme. Se cada falar de estruturas, trata-se de estruturas que não têm sujeitos. E assim Foucault nega que suas obras se inscrevam - ao menos fundamentalmente - no debate sobre a estrutura, como contraposta à genese, à história e ao devir, mas admite que se trata de deslindar um campo em que também são suscitados os problemas de estrutura (como se percebe em sua obra 'A arqueologia do saber', pp. 25-26). Foucault se opõe a todo 'narcisismo', particularmente ao narcisismo das ciências humanas, que fizeram crer que o homem é '... o problema mais constante do saber humano (...) o homem é uma invenção cuja data recente é facilmente mosrada pela arqueologia de nosso pensamento. E com isso talvez mostre seu fim'. (As palavras e as coisas, 1966, p. 398). Assim, os especialistas apontam que Foucault não somente está de acordo com o estruturalismo, mas o leva a suas últimas consequências. Além disso, os campos de referência em Foucault são positivos, porque não consistem em restringir a liberdade, mas em tornar possível a iniciativa dos sujeitos. A maior parte dos autores divide o pensamento de Foucault em três etapas, seguindo um modelo basicamente cronológico: (I) a etapa arqueológico do saber, isto é, de 1961 a 1969; (II) a etapa genealógica, desde Ordem do discurso até o primeiro volume da História da sexualidade, 1971-1976; e (III) finalmente a etapa da governabilidade ou das técnicas ou tecnologias do eu, do sujeito (a partir de 1978). O próprio Gilles Deleuze resumiu o percurso de Foucault em três perguntas: 'o que posso saber?', 'o que posso fazer?' e 'o que sou eu?' Nesse sentido é importante constatar que as principais obras de Foucault começam anunciando uma invenção recente (as disiciplinas psi-, a clínica, as ciências humanas, a prisão, a sexualidade) e terminam anunciando seu possível fim. Foucault perguntou-se pela maneira segundo a qual se constituem os discursos chamados de verdadeiros, sobretudo no âmbito das ciências humanas. E tudo isso de forma a não implicar em absoluto uma legitimação do presente por meio daquilo que Nietzsche chamou de 'racionalidade retrospectiva'. Foucault pergunta-se o tempo todo pelas condições de possibilidade de certas experiências (a doença, a loucura, a prisão, a sexualidade), tentando mostrar quando, por que e em que circunstâncias apareceram. Os primeiros trabalhos (História da Loucura, O Nascimento da Clínica, As Palavras e as Coisas, A Arqueologia do Saber) seguem uma linha pós-estruturalista, seguidos por: 'Vigiar e Punir' e 'A História da Sexualidade'. Além desses livros, são publicadas hoje em dia transcrições de seus cursos realizados no Collège de France e inúmeras entrevistas, que auxiliam na introdução ao pensamento deste autor - como aponta a introdução da obra 'Microfísica do poder, de 1996. Michel Foucault falece em 1984, devido à AIDS. Bibliografia em português: As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Lisboa: Portugalia, [1968]; História da loucura na idade clássica. São Paulo: Perspectiva, 1972; Doença mental e psicologia. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975; HIstória da sexualidade 1: a vontade de saber. 3. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1980; Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1984 (Biblioteca de filosofia e história das ciências; 7); História da sexualidade 2: o uso dos prazeres. Rio de Janeiro: Graal, 1984; História da sexualidade 3: o cuidado de si. 4. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1985; Vigiar e punir. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1984; Isto não é um cachimbo. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1989; O pensamento do exterior. São Paulo: Principio, 1990; Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão: um caso de parricídio do século XIX. 5. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1991; A arqueologia do saber. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995; Resumo dos cursos do Collège de France (1970-1982). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997; 1971-1972: teorias e instituições penais. In: _______. Resumo dos cursos. Rio de Janeiro: Zahar, 1997; Nietzsche, Freud e Marx: theatrum philosophicum. São Paulo: Princípio, 1997; O nascimento da clínica. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998; Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 1999 (Tópicos); Um diálogo sobre os prazeres do sexo, 2000; A mulher e os rapazes: da história da sexualidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002; Os anormais: curso no Collège de France (1974-1975). São Paulo: Martins Fontes, 2002; A verdade e as formas jurídicas. 3. ed. Rio de Janeiro: NAU, 2003; A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. 11. ed. São Paulo: Loyola, 2004; O poder psiquiátrico:  curso dado no Collège de France (1973-1974). São Paulo: Martins Fontes, 2006. (Tópicos); Nascimento da biopolítica: curso dado no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008; O homem e o discurso: a arqueologia de Michel Foucault. 3. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2008. (Comunicação; v. 3). (Fonte: MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia - Tomo II (E-J). São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 1138-1140).

    • Heidegger, Martin

      Martin Heidegger nasceu em 1889 em Messkirch (Bade, próximo à Selva Negra), sudoeste da Alemanha. Estudou na Universidade de Friburgo, com Rickert e Husserl. Após doutorar-se na mesma Universidade (1914), foi nomeado Privatdozent (1916). Em 1923 foi nomedo professor titular em Marburgo e em 1928 - ano em que Husserl se aposentou - professor titular em Friburgo i. B. Em 1933 foi eleito reitor da Universidade, período na qual - a julgar seu discurso de posse e posterior etapa como reitor - pareceu aderir ao nacional-socialismo. Porém, demitiu-se poucos meses depois, continuando a ensinar, mas levando uma vida retirada. Em idos de 1945 foi suspenso do emprego, quando da ocupação da Alemanha pelos países aliados na II Guerra Mundial - da zona de Friburgo pelos franceses. Mais tarde, em 1952, foi-lhe permitido ingressar na Universidade, mas desde então sua atividade propriamente universitária foi intermitente. Diversos autores propuseram etapas distintas na evolução do pensamento de Heidegger. Para efeitos didáticos, usaremos o de Juan Antonio Nuño, historiador e crítico espanhol, que determinou dois períodos: o 'sistemático', representado por Ser e Tempo e a obra sobre Kant, e o 'historicista' (posterior à obra sobre Kant); ainda ssim, outros autores nomearam diferentemente as duas fases fundamentais: a 'existencialista' e a da 'filosofia do ser'. A primeira fase de Heidegger é concentrada na obra Ser e Tempo e sua conferência sobre o que é a metafísica, enquanto a segunda culmina em seus escritos sobre o que 'significa' [ordena] o pensar, sobre a linguagem e outros, especialmente aqueles que desenvolvem a idéia do 'pensar comemorativo'. Trata-se, em suma, do Heidegger anterior ao 'reverso' ou à 'conversão' (Kehre; daí o que pode ser chamado de fase 'pré-Kehre': o Heidegger que, mesmo levantando a pergunta sobre o ser, insiste no Dasein e em seu 'estar-no-mundo'; e do Heidegger do 'reverso' ou da 'conversão' (ou fase 'pós-Kehre': o 'último' Heidegger, conhecido por suas fórmulas como 'O homem é 'arrastado' pelo Ser'; 'O homem habita a morada do ser: a linguagem', etc).Busca-se assim facilitar a compreensão e exposição de seu pensamento, atendo-se às ideias expressas sobretudo em 'Ser e Tempo', e depois às ideias expressas em obras menos 'sistemáticas' e, de certo modo, menos 'filosóficas'. Além disso, seguimos o próprio Heidegger em sua declaração de que aquilo que foi chamado de 'última filosofia' não constitui uma ruptura em relação à sua primeira fase, pois seus pensamentos são como explorações que marcham ora para a frente ora para trás, podendo ser comparado como 'paradas' em uma exploração contínua, de acordo com o princípio: 'O que é permanente no pensar é o caminho' (Unterwegs zur Sprache, p. 99). Desse ponto de vista, suas investigações de Ser e Tempo aparecem como um 'cume' dentro de uma exploração de caráter mais amplo, que Heidgger resume em diversas formulações: 'o Tempo e o Ser', 'o Ser e a Linguagem', 'o Ser como 'essenciador' do ser do homem', 'a irrupção do Ser', o 'pensar comemorativo', 'o jogo do Ser' etc. Durante certa época foi comum dizer que Heidegger não conseguiu sair do estágio da filosofia existencial (existenziell), sem poder chegar ao estágio da filosofia existenciária (existenzial). De acordo com isto, a filosofia de Heidegger seria uma 'filosofia da existência' (Existenzphilosophie), similiar às desenvolvidas por Kerkegaard ou Jaspers. Prova de tal condição seria o fato que Heidegger não chegou sequer a completar a primeira parte de Ser e Tempo; portanto, sua filosofia seria, no fundo, uma das formas do existencialismo contemporâneo.Heidegger rejeitou essas interpretações e declarou que seu principal interesse desde o começo não foi a analítica do Dasein, mas a pergunta sobre o ser (Sein). As obras do 'último Heidegger' confirmam as pretensões do autor. Com efeito, embora com o fim de não ficar preso a uma mera descrição do Dasein, Heidegger teve de efetuar a citada 'conversão' (Kehre): esta foi efetuada a partir das posições adotadas em Ser e Tempo. Podemos assim considerar sua obra como a primeira investida sobre a questão do ser efetuada do ponto de vista de uma visão analítica existênciária cuja dimensão capital é ontológica. O Dasein é um ente, mas não um ente como os demais, pois 'em seu ser está o seu ser'.Dasein (o 'ser-aí', a 'Existência', a 'realidade humana', o 'estar') é preeminente sobre tods os demais, cabe ressaltar. Como a compreensão desse 'ser' é uma determinação de natureza ontológica, esta aparece não apenas como ôntico, mas como ontológico. Para Heidegger, deve-se partir de uma visão analítica existênciária por meio da qual se prepara o terreno para a compreensão do ser em geral; deve-se evitar quaisquer das ideias postas em circulação pela filosofia: para ele, estas ideias não fazem senão 'encobrir' o ser. Por isto é preciso proceder a uma 'destruição da ontologia', ou seja, a uma dissolução das camadas encobridoras, enrijecidsa ao longo da história do pensamento filosófico. Daí que Heidegger considere seu ponto de partida verdadeiramente radical - mais radical que o Cogito cartesiano e mais radical que o de toda 'consciência transcendental', seja kantiana ou husserliana. A obra Ser e Tempo tinha de ser constituída por duas partes, mas somente as duas primeiras seções da primeira parte foram publicadas no que apareceu como Ser e Tempo I. Contudo, o livro de Heidegger sobre Kant pode ser considerado ao menos com um fragmento da segunda parte, e outros de seus escritos, particularmente consagrados à teoria platônica da verdade e a comentários de fragmentos pré-socráticos, podem ser considerados como outras seções. Segundo Heidegger, a estrutura fundamental é o 'ser-no-mundo' (in-der-Welt-sein), 'estar-no-mundo'. Não é encontrar uma coisa na outra, mas sim (e daí os hífens) uma realidade total. Por isto, não há um sujeito no mundo (realismo) nem um mundo em um sujeito (idealismo); e, por outro lado, o mundo não é um conjunto de coisas; 'mundo' designa, como ele próprio indica, 'a noção ontológico-existenciária da mundanidade'. O mundo imediato do Daesin é o 'mundo circundante' (Unwelt). Este ('mundo circundante') não significa que se descarte todo espaço, mas o espaço designado pela expressão res extensa está incluído na circumundanidade, ou na mundanidade circundante enquanto mundo-no-qual-estou. A interpretação desse conceito levou Heidegger examinar a diferença entre o estar-presente (vorhanden) e o estar-à-mão (zuhanden); Algo semelhante acontece com o espaço; ele é uma espécie de orientação-em, que envolve a aproxiamação e a des-aproximação ou distanciamento. Contudo aproximar-se e afastar-se não são propriedades subjetivas, mas também caracteres ontológicos por meio dos quais se esclarece a própria noção de extensão. O 'quem' do Dasein sou 'eu mesmo', mas eu sou somente na medida em que 'sou com': ser é para o Dasein Mit-Dasein. Na 'relação' de cada Dasein com os demais e com o mundo, isto é, no 'ser-com' (Mit-sein) fundamental do Dasein enquanto está-no-mundo, aparece o modo ser fundamental do Dasein como preocupação (Besorgen). O Dasein pode, certamente, 'despreocupar-se': é o que acontece na existência cotidiana em que predomina o 'alguém' (o 'se', nas formas do 'se vê', 'se diz' etc). O 'alguém' é como uma degradação do Dasein para Heidegger. Mas não uma degradação moral, tampouco ontológica: é uma degradação existenciária que constitui o Dasein e, portanto, não deve ser julgada negativamente. Porém, Heidegger mostra uma indubitável preferência pelo aspecto autêntico - ou pelas formas desse aspecto - como constitutivo do Dasein como tal. Isso acontece ao tentar determinar o ser do Dasein por meio do cuidado (Sorge). Para Heidegger, o 'estar-no-mundo' ou Dasein é ter sido lançado ao mundo, e esse ser lançado é como uma queda. Não é menos certo, porém, que o Dasein tem a possiblidade de 'levantar-se' dessa 'queda'. Isso ocorre mediante a angústia, na qual o Dasein se compreende em sua niilidade ontológica. Em sua conferência sobre o que é metafísica, Heidegger elaborou alguns dos temas apontados em Ser e Tempo: a angústia e o nada são dois deles. Para o filósofo, o Dasein como cuidado é a ideia que permite entender a temporalidade do DaseinNeste ponto inserem-se na sua visão analítica os temas da morte e da consciência enquanto chamado a si mesmo (Ruf). A morte pode ser enfrentada autêntica ou inautenticamente, e algo análogo ocorre com a nossa consciência ou chamado. Esse chamado todavia não é exterior nem interior; mas se revela como o chamado do cuidado. Por isso o chamado em questão é como uma 'vocação', à qual o Dasein pode ser fiel ou não.Como podemos notar, vários temas da psicologia vão entremeando a obra de Heidegger, e tem esta particular interesse para esta área, e sua extensão - discussão de conceitos diversos durante seus escritos - é quase infindável. Cabe por final ressaltar que se o ser seria tudo o que dele foi negado segundo Heidegger, não estaria oculto atrás dos entes; seria os próprios entes enquanto presentes. Tal presença não ocorre de uma só vez: é uma 'história' e um 'destino', ambos ao mesmo tempo, um destino do ser este que é um 'advir' como história do pensar essencial, do pensar que 'joga' com o ser e se reflete nele. Ao longo desse advir, 'abranda-se' a tradição 'endurecida' para se recuperar a verdadeira tradição, que é a tradição do ser em seu advir. Dentre as obras principais de Heidegger, destacam-se: I - Em alemão (Listamos apenas os primeiros trabalhos, pois sua produção foi extensa): Die Lehre vom Urteil im Psychologismus. Ein kritisch-positiver Beitrag zur Logik / A teoria do juízo no psicologismo: contribuição crítico-positiva à lógica, 1914 (tese); Die Kateogorien - und Bedeutungslehre des Duns Scotus / A teoria das categorias e da significação em Duns Scotus, 1916; Sein und Zeit / Ser e Tempo. Parte I, 1927 [edição separada do Jahrbuch für Philosophie und phänomenologische Forschung, 8. Na 7a. edição (1953) o autor anuncia que a obra não terá continuação]; Kant und das Problem der Metaphysik / Kant e o problema da metafísica, 1929; Was ist Metaphysik? / O que é a metafísica?, 1929. [edição separada do Jahrbuch etc., 11]. II - Em português: Sobre a essência do fundamento: a determinação do ser do ente segundo Leibniz, Hegel e os gregos. São Paulo: Duas Cidades, 1971.; Tempo e Ser. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (Os pensadores); O fim da filosofia e a tarefa do pensamento. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (Os pensadores); Sobre a essência da verdade: a tese de Kant sobre o ser. São Paulo: Duas Cidades, 1974.; Todos nós... ninguém: um enfoque fenomenológico do social. São Paulo: Moraes, 1981.; Introdução à metafísica. 3. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1987.; A essência do fundamento, Lisboa: Edições 70, 1988. (Biblioteca de Filosofia Contemporânea; 9); A origem da obra de arte. Lisboa: Edições 70, 1992. (Biblioteca de Filosofia Contemporânea; 12); Que é uma coisa? Doutrina de Kant dos princípios transcendentais. Lisboa: Edições 70, 1992.; Sobre a essência da verdade. Porto: Porto Ed., 1995. (Filosofia. Textos; 5); Sobre o humanismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. (Biblioteca Tempo Universitário; 5); Ser e Tempo. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1995. 2 v.; Heráclito. 2. ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000.; NIetzsche: metafísica e niilismo. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000.; Carta sobre o humanismo. 2. ed. rev. São Paulo: Centauro, 2010. (Fonte: MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia - Tomo II (E-J). São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 1303-1310).

    • Husserl, Edmund

      Nasceu em Prossnitz em 1859 na antiga Morávia, hoje a parte oriental da República Checa. Estudou matemática com Weierstrass e assistiu às aulas de Brentano na Universidade de Viena (entre 1884 e 1886). As lições de Brentano influenciaram não apenas sua formação filosófica, mas também a 'ideia geral de filosofia' que ele forjou para si. Hussel foi nomeado, em 1916, professor titular na Universidade de Friburgo i.B., onde lecionou até sua aposentadoria em 1928. Cabe apontar, em primeiro lugar, que os escritos de Husserl publicados durante sua vida, e inclusive alguns dos que apareceram após sua morte, representam somente parte de seu pensamento. Por outro lado, Husserl tinha um modo de pensar característico, revelado pelas 'obras inéditas' onde se apresenta especialmente como 'deslizante', porque consistia em grande parte em 'fazer-se' e em 'constituir-se'. Eugen Fink foi um dos discípulos de Husserl mais próximos do mestre, propondo 'dividir' - ou 'articular', ao menos evolutivamente - o pensamento deste filósofo em 3 períodos, assim como outro de seus discípulos - Herbert Spiegelberg: a) O período 'pré-fenomenológico' ou o de Halle até 1901 (que culmina nas Investigações lógicas); b) O 'período fenomenológico' ou o de Gottingen, até 1906 e que culmina nas Idéiase e em parte no segundo volume das Investigações; e c) O período 'da fenomenologia pura', que se organiza por volta de 1906 e conduz à formulação de um novo transcendentalismo e, em última análise, a um 'idealismo fenomenológico'. Conforme observou Walter Biemel em sua introdução à edição de A idéia de fenomenologia (5 conferências dadas por Husserl em Gottingen, de 26 de abril a 2 de maio de 1907, Husserl já chegara, pelo menos no início de 1907, à ideia da necessidade de transformar a fenomenologia como psicologia descritiva em uma fenomenologia como fenomenologia transcendental. O próprio Husserl expressou-se claramente neste sentido em um dos manuscritos procedentes de 1907, citados por W. Biemel. Entre os grandes filósofos do passado que são fundamentais para se entender o pensamento de Husserl, figuram Platão, Descartes e Kant. A transformação a que nos referimos anteriormente parece estra muito ligada ao crescente interesse de Husserl por Kant, ou por alguns temas e conceitos kantianos (e em especial pela ideia da crítica da razão como filosofia transcendental).A ideia fundamental de redução também provém da época mencionada , como demonstra o índice das conferências redigido por Husserl e sua elaboração do mesmo na conferência [ou lição] I. Husserl insiste na ideia de que a filosofia se encontra em um nível ou dimensão distintots dos das 'ciências naturais' (op. cit., p. 24). Isso parece contradizer o estrondoso artigo que publicou em Logos (I [1911]) sobre a 'filosofia como ciência rigorosa'. Mas deve-se levar em conta que a 'ciência' (Wissenschaft) de que se trata aqui é, propriamente falando, um 'saber' - um 'saber rigoroso' ou 'saber estrito' - que constitui o padrão para o rigor das 'ciências', incluindo as 'ciências naturais'. Em seguida, o que se pode chamar de 'escola de Brentano' impressionou Husserl, conduzindo-o à aludida concepção da filosofia como uma 'ciência rigorosa', distante de toda a 'especulação' e atenta a fundamentos, conceitos básicos etc. È verdade que de início Husserl tratou os conceitos matemáticos de forma psicológica, ou aparentemente psicológica, mas logo se orientou para um 'objetivismo'. Já dentro deste último começou a desenvolver uma forma característica de pensar, que nunca foi abandonada e pode ser descrita com as seguintes palavras de Spiegelberg: 'um sistema do avesso'. Com efeito, embora para certos filósofos contemporâneos o pensamento de Husserl, especialmente o das últimas 'fases', tenha muito de 'especulativo', ele nunca foi considerado desse modo no espírito de Husserl, que considerava que filosoficamente equivalia a descrever esmeradamente 'o que via'. Justamente a inclusão, na descrição do 'que se vê', um dos esforços intelectuais realizados para 'vê-lo' é um dos motivos que explicam o caráter ao mesmo tempo 'fluente' e 'sinuoso' do pensamento de Husserl. Em suas tentativas para conseguir isso Husserl analisou vários conceitos fundamentais ao mesmo tempo lógicos e gnoseológicos para depurá-los não apenas do psicologismo e do subjetivismo, mas também de todos os possíveis 'pressupostos naturalistas', assim como para denunciar pressupostos ontológicos inadvertidos, tais como o nominalismo. Seguindo várias outras têndências contemporâneas, Husserl almejou libertar a filosofia de toda idéia de confusão com uma ciência natural, e ao mesmo tempo libertá-la de toda tentação de redução à psicologia ou a alguma forma de psicologia. A filosofia não tem por que se ocupar de fenômenos psíquicos enquanto fenômenos reais. Se ela se ocupa de algo é de uma espécie de 'terceiro reino', algo que alguns filósofos chamaram de 'significações' e que Husserl concebeu como reino (platônico ou quase platônico) das 'essências' enquanto 'unidades ideais de significação'. A fenomenologia não se ocupa de fatos; com efeito, todas as experiências relativas ao mundo atual, todas as proposições das ciências etc. são 'suspendidas' ou, melhor, postas entre parênteses. Os parênteses ou 'epoché' desempenham, no entanto, somente uma função negativa; ainda não servem para apreender o dado tal como ele se dá puramente à intuição essencial. Com efeito, essa intuição não é uma intuição empírica nem tampouco uma intuição de algo 'real' (uma intuição do real ao modo metafísico, ou supostamente tal); é uma intuição pura das essências, isto é, do dado do ponto de vista essencial e não fático. Desse modo, a fenomenologia é um método que permite 'ver' não outra realidade, mas por assim dizer, a realidade outra, ou, se se preferir, uma espécie de 'outridade' (irreal) da realidade, isto é, de todas as realidades, incluindo nelas as chamadas 'realidades ideais' ou também 'idealidades'. Assim considerada, a fenomenologia é vista estritamente diferente do ponto de vista que Husserl chama de 'atitude natural': é o ponto de vista por meio do qual se vê tudo o que revela a atidade natural enquanto 'suspenso' ou 'posto entre parênteses'. Mas isso significa que a fenomenologia não é uma ciência junto às outras, nem sequer uma 'ciência básica', ela é fundamento de toda ciência e de todo saber. Na descrição fenomenológica, e especialmente na que torna possível a chamada 'redução eidética', deparamos com um 'fluxo puro' (intencional) do vivido, no qual se pode destacar o aspecto noético e o aspecto noemático. Mas com isso ainda não se chega a uma camada suficientemente básica, fundamental ou 'radical' - é preciso proceder à redução transcendental na qual o único 'objeto' de 'visão fenomenológica' é o 'próprio ego'. Aparece então o que se chamou de 'concepção egológica da consciência', ou seja, a idéia do 'eu [ou ego] transcendental'. Esse 'ego' já não é, então, um mero aspecto, ou apenas um, em um único fluxo do vivido': é o fundamento de todos os atos intencionais. Por ser o fundamento desse atos o eu é, como diz Husserl, 'constitutivo'. Isso não significa adotar uma posição similar à kantiana; embora haja em Husserl provavelmente mais kantismo que o próprio autor suspeitava, há diferenças fundamentais do 'eu' kantiano e o 'eu' husserliano, inclusive quando Husserl adota definitivamente a posição denominada 'idealismo fenomenológico' (rejeitada e criticada por muitos daqueles que até então haviam seguido o filósofo). O eu trascendental husserliano é um 'resíduo fenomenológico' e não o 'Eu penso' kantiano que 'acompanha todas as percepções'. Além disso, ao contrário do que ocorre em Kant, as realidades não estão, em Husserl, 'constituídas', mas continuam sendo 'as coisas mesmas' tal como se dão à intuição essencial. A esse respeito pode-se dizer que há em Husserl uma progressiva aproximação em relação a Descartes (aproximação se torna explícita, ao longo do terceiro 'período', nas Meditações cartesianas). Em todo caso, a fenomenologia aparece cada vez menos como o que foi originariamente - um método - e se aproxima cada vez mais daquilo que Husserl se esforçou para fazer dela: uma 'ciência' sem pressupostos. Husserl chega à conclusão de que uma relidade não fundada no eu fenomenológico é absurda, ou contradiz a si mesma. Outro dos pontos de vista a partir dos quais foi tratado o problema da realidade na fenomenologia transcendental radical é o da 'constituição'. A fenomenologia transforma-se, desse modo, em 'fenomenologia constitutiva'. De modo similar ao kantiano - embora sem abandonar, ao menos na intenção, os resultados da 'fenomenologia descritiva' -, Husserl procede à determinação dos objetos da consciência transcendental enquanto constituídos. Essa constituição, porém não é simples nem única. Há uma série complexa de 'regiões de constitiuição' que se convertem em outras tantas regiões da realidade. Como a constituição de que falamos constitui as objetividades, ou regiões de objetividades, considerando-as como resíduos de um processo genético de constituição, Husserl esforça-se em acrescentar às já muito diversas versões da fenomenologia uma 'fenomenologia genética'. Desse modo Husserl tenta 'reabsorver' no 'eu que constitui' todas as realidades, que, ao que parece, haviam sido descartadas, ou até eliminadas, no idealismo fenomenológico como pura 'egologia transcendental'. É possível que Husserl tenha pensado que há um processo de 'protoconstituição' na consciência do tempo, mas este é um ponto sobre o qual não se pode concluir nada de definitivo sem ter à mão todos os escritos de Husserl. Acrescentamos por fim, que há no último período do pensamento de Husserl uma tentativa bem determinada de fundar a fenomenologia no que se poderia chamar de 'fenomenologia do Espírito' - em um sentido não necessariamente hegeliano, mas no qual também poderiam ser encontrados, mais do que se poderia esperar, as pegadas (não forçosamente a influência direta) de Hegel. Com efeito, em sua obra sobre A crise das ciências européias e a fenomenologia transcendental, Husserl defende o estudo autônomo do espírito em si e por si (ao contrário de todas as tentativas de redução naturalista). Husserl exerceu, e continua exercendo, uma vasta influência sobre muitos aspectos da filosofia contemporânea. A 'escola fenomenológica' ou, como se poderia chamar mais propriamente, 'o movimento fenomenológico' não se reduzem aos discípulos imediatos de Husserl ou aos colaboradores do Jahrbuch für Philosophie und phänomenologische Forschung (1913-1930), no qual apareceram várias obras de Husserl, como de outros autores influentes como Heidegger (também discípulo de Husserl, juntamente com Max Scheler). Ao indicarmos que entre os filósofos fora da Alemanha receberam importantes incitações da fenomenologia, figuram aí proeminentemente José Ortega y Gasset, Francisco Romero, Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty. Deve-se observar que em alguns casos (como em Ortega y Gasset) o interesse por Husserl (que ele tornou conhecido muito rapidamente na Espanha) está ligado a uma crítica rigorosa do autor. Em outros casos, a fenomenologia é 'usada' de uma maneira mais parecida com a de Heidegger que com a de Husserl. Há certos casos difíceis de classificar, como o de Oskar Becker. Para finalizar, mencionamos os nomes de alguns autores que foram influenciados por Husserl ou utilizaram princípios ou métodos fenomenológicos (aos menos ocasionalmente). Destacamos Mikel Dufrenne, Raymond Polin, Pierre Thénevaz, Paul Ricoeur, Alphonse de Waelhens, Dorion Cairns, Aron Gurwitsch, Emmanuel Levinas. Convém citar ainda o trabalho de Marvin Farber, que contribuiu muito para o conhecimento de Husserl nos países de língua inglesa. A rigor, nem sempre é fácil distinguir autores que seguiram, mesmo parcialmente, Husserl, e autores que contribuíram sobretudo para o conhecimento e a crítica deste autor. Edmund Husserl faleceu em 26 de Abril de 1938 aos 79 anos, após sofrer uma queda. Bibliografia em alemão, de escritos publicados em vida: Uber den Begriff der Zahl, 1887 (Sobre o conceito de número); Philosophie der Arithmetik, I, 1891 (Filosofia da aritmética); Psychologische Studien zur elementaren Logik, 1894 (Estudos psicológicos para a lógica elementar); Der Folgerngskalkül und die Inhaltlogik, 1891 (O cálculo sequencial e a lógica material); Logische Untersuchungen, 2 v., 1900-1901;  e 2. ed. em 1913 (Investigações lógicas); Philosophie als strenge Wissenschaft, Logos, 1 (1910=1911), 289-341 (Filosofia como uma ciência rigorosa); Ideen zu einer reinen Phänomenologie des inneren Zeitbewusstseins, 1929, ed. M. Heidegger (Idéias para uma fenomenologia pura da consciência do tempo interno); Formale und transzendentale Logik, 1929 (Lógica formal e transcendental); Nachwort zu meinen Ideen, 1929 (Epílogo às minhas 'idéias'); Méditations cartésiennes. Introduction à la phénoménologie, 1931 (Meditações cartesianas. Introdução à fenomenologia); Die Krisis der europäischen Wissenschaften und die transzendentale Phänomenologie, Philosophia I, ed. Arthur Liebert, 1936 (A crise das ciências européias e a fenomenologia transcendental). Nota: As obras completas de Husserl, com base nos Archives, estão sendo publicados com o título Husserliana, desde 1950, sob a direção de H. L. van Breda, com a colaboração de S. Strasser, W. Biemel, M. Biemel, R Boehm e outros. Obras em português: Conferências de Paris, s. d.; A crise da humanidade européia e a filosofia, 1996; A idéia de fenomenologia, 1986; Investigações lógicas, 1974. Introduction à la phénoménologie, 1931 (Meditações cartesianas. Introdução à fenomenologia); Die Krisis der europäischen Wissenschaften und die transzendentale PhänomenologiePhilosophia I, ed. Arthur Liebert, 1936 (A crise das ciências européias e a fenomenologia transcendental). Nota: As obras completas de Husserl, com base nos Archives, estão sendo publicados com o título Husserliana, desde 1950, sob a direção de H. L. van Breda, com a colaboração de S. Strasser, W. Biemel, M. Biemel, R Boehm e outros. Obras em português: Conferências de Paris, s. d.; A crise da humanidade européia e a filosofia, 1996; A idéia de fenomenologia, 1986; Investigações lógicas, 1974. (FonteMORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia - Tomo II (E-J). São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 1303-1310).

    • Kant, Immanuel

      Immanuel Kant nasceu em 1724, em Königsberg (então Prússia, hoje parte do território da Rússia), onde permaneceu até sua morte em 1804, excetuando-se um período que passou fora dali - exercendo o cargo de perceptor nas cercanias da cidade. De 1732 a 1740, foi aluno do 'Collegium Fredericianum', cujo ambiente pietista reforçou as tendências que lhe haviam sido inculcadas pela mãe. Em 1740, ingressou na Universidade, estudando, entre outros, com Martin Knutzen, que lhe despertou o interesse pela ciência natural, especialmente a mecânica de Newton. Depois de exercer o cargo de preceptor por algum tempo, recebeu em 1755 seu título universitário e tornou-se Privatdozent em Konigsberg. Em 1769, recusou a oferta de uma cátegra em Iena, e no ano seguinte foi nomeado professor titular em sua cidade natal. A vida e o caráter de Kant foram objeto de muitos estudos. Acentuou-se sua religiosidade pietista - ainda que Kant tenha se oposto à prática puramente formal das observâncias religiosas - e, sobretudo, sua integridade moral. Outro ponto destacado foi sua extraordinária tenacidade no trabalho e a regularidade de seus hábitos. Alguns autores (como Richard Kroner) afirmaram que a autêntica Weltanschauung de Kant foi de índole ética - ou, se quiser, ético-religiosa - e que sua atitude moral determina em grande parte sua teoria do conhecimento e sua metafísica. Outros autores destacaram a importância que tem para a compreensão de Kant a ideia de homsem (para a qual recebeu de Rousseau importantes estímulos). Outros autores destacaram a importância que tem em Kant o problema do conhecimento, a ponto de indicar que ele determina todos os problemas. É plausível vincular todos esses aspectos e procurar ver suas relações mútuas. Distinguem-se amiúde no pensamento filosófico de Kant três fases ou períodos: 1) o período pré-crítico, anterior a 1781 - data de publicação da primeira edição da Crítica da razão pura - e até anterior a 1771, quando ele escreveu a seu amigo Marcus Herz para dizer que preparava uma obra intitulada Die Grenzen der Sinnlichkeit und der Vernunft (Os limites da sensibilidade e da razão), que terminou por ser a citada Crítica da razão pura; 2) o período crítico, até 1790, data de publicação da 'terceira Crítica'': a Crítica do juízo; 3) o período pós-crítico, de 1790 até a morte do filósofo. Indicou-se ainda que o primeiro período se caracteriza por seu apego à metafísica dogmática, seguindo o modelo de Leibniz-Wolff; o segundo período é marcado pelo criticismo propriamente dito; e o terceiro período se destaca por uma espécie de 'recaída' na metafísica. A distinção em três fases ou períodos no pensamento de Kant é útil para uma primeira apresentação desse pensamento, mas não deve ser tomada literalmente e menos ainda equiparada com uma suposta série 'metafísica dogmática-criticismo-recaída metafísica'. Os que estudaram Kant um pouco a fundo descobriram que, embora haja nele uma evolução, esta nem sempre pode ser simplificada da maneira apontada. Com efeito, por um lado,  a evolução do pensamento kantiano é maior e mais complexa que a resultante da divisão em três períodocs (como o demonstrou H. J. de Vleerschauwer, mesmo limitando-se a uma fase do pensamento kantiano). Por outro lado, há maior continuidade nesse pensamento do que o permite supor uma divisão em períodos. A continuidade manifesta-se, além disso, no próprio modo como Kant teceu fios filosóficos a fim de elaborar sua própria doutrina. O pensamento de Kant é em grande medida um 'novo parágrafo' que continua muito estreitamente o 'parágrafo menor'. Isso faz com que se possam encontrar numerosos antecedentes da doutrina kantiana (não só em Hume como também no pensamento de autores como Baumgarten, Lambert, Maier e Tetens). Mas esses antecedentes, sem os quais não existiria o pensameno de Kan, não produzem Kant por si sós. Kant se interessou desde o início por questões científicas; a mecânica de Newton era para ele, assim como para muitos de seus contemporâneos, o modelo de uma teoria científica, não só pelo conteúdo como, e sobretudo, pelo método. Mas Kant também procurou buscar o fundamento do conhecimento científico de tipo newtoniano, a 'explicação dos primeiros princípios do conhecimento metafísico'. Durante algum tempo, ele pensou que essa explicação poderia encontrar-se em algumas das doutrinas de Leibniz e de Wolff. Não por certo em todas elas, porque cedo Kant se deu conta (como o fizeraentre outros, Lambert) de que há uma espécie de abismo intransponível entre os princípios de uma metafísica 'dogmática' e os 'princípios matemáticos da filosofia natural': aqueles são, por assim dizer, demasiado 'vazios' para poder dar conta destes. Contudo, Kant avaliou que, depois de uma crítica suficiente, seria possível salvar algumas idéias da chamada Escola Leibniz-Wolff. Era preciso distinguir cuidadosamente, de imediato, entre a metafísica e a matemática. Além disso, havia necessidade de refinar os princípios da teologia natural. Por fim, era preciso mostrar em que relação se encontravam as realidades sensíveis com as inteligíveis em vez de simplesmente derivar as primeiras das últimas. Ao passar à elaboração das idéias que iriam conduzi-lo a uma fundamentação mais sólida da ciência, Kant deparou um obstáculo que era ao mesmo tempo um estímulo: a crítica de Hume (especialmente a crítica da noção racionalista de causalidade). Até entrar em contato com o pensamento de Hume, Kant permanecera, não obstante seus esforços por modificar a partir de dentro os princípios metafísicos de Leibniz-Wolf, num estado de 'sono dogmático' e foi somente Hume - como reconhece Kant na introdução aos Prolegômenos a toda a metafísica futura - que o 'despertou de seu sono dogmático'. Diante disso, diz-se frequentemente que o pensamento de Kant em sua 'maturidade crítica' constituiu-se em consequência do complexo abandono de Leibniz e Wolff, que se mostravam incapazes de salvar a física de Newton - e, de modo geral, toda a ciência - do naufrágio que podia experimentar em razão do 'ceticismo de Hume'. Embora não seja pouca a verdade contida nessa suposição, deve-se levar em conta que Kant não abandonou Leibniz e Wolff por completo. Kant admite de imediato que todo conhecimento começa com a experiência. Mas indica em seguida que nem todo conhecimento procede da experiência. Isso significa que a explicação genérica do conhecimento, ao modo de Hume, não é para Kant totalmente satisfatória; resolver a questão da origem não é resolver o problema da validade; pois a experiência não pode por si só outorgar necessidade e universalidade às proposições de que se compõe a ciência e, em geral, a todo saber que aspire ser rigoroso. É necessário perguntar, portanto, como a experiência é possível, isto é, encontrar o fundamento da possibilidade de toda experiência. Com vistas a isso, Kant procede de início à classificação dos juízos em analíticos e sintéticos, a priori e a posteriori. Nos juízos analíticos, o predicado está contido no sujeito; por isso, esses juízos não são vazios mas tampouco absolutamente certos. Os juízos a priori são os formuláveis independentemente de experiência, os juízos a posteriori são os derivados da experiência. Se, como supunham (por razões distintas) Leibniz e Hume, nos juízos analíticos são todos a priori e os sintéticos todos a posteriori, não parece possível escapar ou a metafísica dogmática racionalista ou a uma teoria do conhecimento cética empirista. Com efeito, ou os juízos sintéticos a posteriori são redutíveis a juízos analíticos a priori, caso no qual nunca há certeza completa a respeito dos princípios do conhecimento. Mas se supõe que o conhecimento real está fundado e juízos sintéticos a priori, isto é, juízos capazes de dizer sobre o real algo de caráter universal e necessário, então teremos de perguntar pela possibilidade de tais juízos: esse é o tema da crítica da razão, que deve proceder a uma análise de seus próprios poderes como preparação para uma metaífisca 'como ciência'. Kant pergunta como são possíveis os juízos sintéticos a priori na matemática e na física (ou conhecimento da Natureza); pergunta além disso se esses juízos são possíveis na metafísica. O exame desse grupo de questões é o objeto da primeira parte (a 'doutrina transcendental dos elementos') da Crítica da razão pura, à qual se segue uma segunda parte (a 'doutrna transcendental do método'). A primeira parte divide-se numa 'estética transcendental' e numa 'lógica transcendental'. A 'lógica transcendental' se subdivide numa 'analítica transcendental' e numa 'dialética transcendental'. O adjetivo 'transcendental' é fundamental em Kant. Deixando de lado por ora a difícil porém certa relação entre o sentido de 'transcendental' na doutrina clássica dos 'transcendentais', admitiremos que 'transcendental' é o nome de todo conhecimento que não se ocupa tanto dos objetos quanto do modo de conhecê-los. Por isso, a filosofia transcendental kantiana é apenas 'a idéia de uma ciência' cujo plano arquitetônico deve ser traçado por uma 'Crítica da razão pura'. Contudo, além disso, e sobretudo, 'transcendental' é o nome de um 'modo de ver' e também o nome de 'algo' que não é nem o objeto nem tampouco o sujeito cognoscente, mas uma relação entre os dois, relação de tal índole que o sujeito constitui transcendentalmente, com vistas ao conhecimento, a realidade enquanto objeto. Desse modo, a filosofia transcendental é a reflexão crítica mediante a qual o dado se constitui como objeto do conhecimento. E o conhecimento é por isso em cada caso um processo de síntese (e de unificação) que pode ser chamado de 'síntese transcendental'. Limitar-nos-emos a lembrar que o espaço e o tempo são para Kant formas dos sentidos externo e interno, respectivamente. Espaço e tempo adquirem com isso, segundo Kant, 'idealidade transcendental'. Mas também 'realidade empírica'. De fato, espaço e tempo, enquanto intuições a priori, não são coisas em si. Mas tampouco são resultado da atividade subjetiva individual: são modosde intuir que não precisam limitar-se à sensibilidade humana, visto serem condições de conhecimento para todo sujeito cognoscente em geral. Mais complexa, e discutida, que a 'Estética transcedental' é a 'Analítica transcendental'. Seu fundamento é a idéia de uma lógica transcendental que tem a mesma forma da lógica, mas que desta difere na medida em que é uma 'lógica do uso do entendimento'. Não se podem conhecer os fenômenos da Natureza mediante o puro pensar (especulativo), que é 'vazio'. Tampouco podem ser conhecidos por meio das puras intuições, que são 'cegas': somente a conjunção do pensamento com a intuição permite o conhecimento efetivo do real que seja a um só tempo universal e necessário. Os sentidos não pensam; o entendiento não intui. Mas assim que o entendimento é aplicado às intuições, engendram-se as condições mediante as quais o conhecimento dos fenômenos é possível. TRata-se para Kant de determinar em que consiste e como é possível o conhecimento empírico - no sentido kantiano de 'empírico' - enquanto conhecimento determinado ou, se se quiser, objetivamente por meio dos conceitos e dos princípios do entendimento. Os dados sensíveis não proporcionam conhecimento universal e necessário. As formas puras do entendimento, como formas lógicas, dão lugar a enunciados universais e necessários mas ainda não 'objetivos', ou seja, aplicáveis a fenômenos que, desse modo e por essa aplicação, constituem-se em 'objetos'. Conhecer os fenômenos é, assim, 'constituir' o dado como objeto do conhecimento. Conhecer é, em suma, conjugar o dado com o posto. Este último é formado pelas categorias derivadas das formas do juízo. As categorias ou conceitos puros do entendimento devem ser 'deduzidas' (isto é, 'justificadas'). A isso responde a 'dedução transcendental' ou justificação transcendental do emprego dos conceitos puros. Determinar como são possíveis os conceitos puros do entendimento equivale a investigar quais são as condições a priori nas quais se funda a possibilidade da experiência. Essa determinação é levada a efeito por meio do exame de várias 'sinteses' (a síntese da apreensão na intuição; a da reproduzação na imaginação; e a do reconhecimento num conceito). A rigor, conhecer é 'sintetizar', isto é, 'ligar', 'ligar' o múltiplo na unidade do conceito. A operação de 'ligar' e de 'sintetizar' alcança seu ponto culminante na 'unidade sintética da apercepção', que é o fundamento da unidade de todo objeto como objeto do conhecimento e, ao mesmo tempo, o fundamento da unidade do sujeito como sujeito cognoscente. Mas nenhuma das sínteses vai além da 'experiência possível'; se isso ocorrese, já não haveria conhecimento, pois conhecer é basicamente unificar o múltiplo e não transcendê-lo por meio de uma síntese puramente racional. Com base no esquematismo transcendental, poder-se-á esboçar o sistema dos princípios do entendimento puro e estabelecer a conexão entre os princípios do conhecimento e as leis básicas da ciência da Natureza. O sistema dos princípios do entendimento constitui assim o fundamento de todo 'juízo empírico' (no sentido de 'juízo científico'), que vai então adquirir as condições de universalidade e necessariamente e necessidade que, segundo Kant, constituem a característica fundamental das proposições da física de Newton. Com tudo isso, realiza-se o que Kant chama de 'revolução copernicana', na qual o sujeito gira em torno do objeto para determinar as possibilidades de seu conhecimento em vez de deixar que o objeto gire em torno de si. Esta última alternativa pressupõe que o objeto é uma coisa em si ou número e que é acessível à nossa faculdade cognoscitiva. A primeira aceita que o conhecido seja somente fenômeno e que, para chegar a ser conhecido, tenha sido 'constituído' como objeto de conhecimento.A 'Estética transcendental' e a 'Analítica transcendental' traçam os limites da experiência possível. Nesse sentido, são 'construtivas' e no vocabulário kantiano, 'constitutivas'. A 'Dialética transcendental', ao mostrar que não se pode ir, no âmbito da razão teórica, além desses limites, mostra-se 'destrutiva' (destrutiva da metafísica dogmática). Kant fala de uma ilusão transcendental (a ilusão metafísica), que difere das ilusões físicas (por exemplo, óticas), e das ilusões lógicas (como as falácias). Estes dois últimos tipos de ilusão podem ser eliminados. Isso não acontece com a ilusão transcendental, visto não haver critério por meio do qual retificá-la. Ao mesmo tempo, semelhante ilusão rerpesenta uma aspiração humana ao conhecimento absoluto (que não se pode obter). Não se pode provar por meio da razão teórica especulativa nenhum dos princípios da metafísica. São as três grandes questões de 'Deus, do mundo, e da alma' (ou ainda 'Deus, liberdade e imortalidade'). O mundo e a alma são 'ídeias' racionais; Deus é um 'ideal' (racional). Essas questões são tratadas como solúveis pela metafísica dogmática. A crítica da razão mostra, na 'Dialética transcendental', que, quando se tenta solucioná-las, dá-se o choque com dificuldades insuperáveis: antinomias ou paralogismos.Kant edifica essas críticas a última delas em particular, com base numa concepção do ser segundo a qual 'ser' (Sein) não é 'um predicado real', 'mas a posição de uma existência'. Em todos os casos, alega Kant, abandonaram-se as precauções estabelecidas no curso do exame das condições do conhecimento. As idéias da razão pura foram tomadas erroneamente como ideias constitutivas, quando no máximo são apenas ideias reguladoras. A metafísica, portanto, parece impossível. Isso não significa que as proposições metafísicas não tenham sentido, mas apenas que não podem ser provadas 'teoricamente'. Seja como for, as ideias da razão pura organizadas num sistema são apresentadas nesses fragmentos como o fundamento da possibilidade de toda experiência (de uma forma parecida com a desenvolvida por Fichte). O tipo de pensamento metafísico proposto por Kant em suas obras póstumas, embora muito mais 'construtivo' que o que aparece nas 'Críticas', e particularmente na razão pura, não é especulativo no sentido tradicional: a filosofia transcendental como 'filosofia pura', embora não misturada com elementos empíricos e embora capaz (em princípio) de estabelecer de modo absoluto as condições da experiência, não está de maneira alguma separada desta ao modo como se acharia separado num mundo inteligível platônico (ao menos numa das interpretações de Platão) do mundo sensível. Ao lado da fundamentação da experiência como experiência, há a necessidade de integrar a razão com a experiência. A filosofia - tanto quanto metafísica como quanto 'filosofia transcendental' - continua a ser uma parte da 'crítica da razão pura', como o indica Kant explicitamente num de seus fragmentos (III, p. 1). Enfim, embora 'ciência', a filosofia continua a ser 'uma ciência problemática' (VIII, p. 1) e a experiência da qual constitui a possibilidade, embora uma experiência total, permanece baseada na 'síntese a priori'; a consciência, diz Kant, é por certo o primeiro ato da razão e nela se funda em última análise toda experiência, mas o segundo ato é a intuição e o terceiro, o conhecimento. A imagem da filosofia de Kant variou de acordo com a época e dependeu em larga medida da ênfase dada a determinado aspecto seu. Os idealistas pós-kantianos deram menos atenção à teoria kantiana do conhecimento que às possibilidades de uma metafísica; por isso esses sistemas foram às vezes considerados (particularmente o de Fichte) um prolongamento das últimas meditações de Kant. A partir de meados do século XIX, em contrapartida, houve uma crescente tendência a considerar Kant primordialmente como um crítico do conhecimento; o neokantismo, em suas várias vertentes, destacou o trabalho gnosiológico de Kant, examinando-o de todos os pontos de vista e prolongando-o em todas as direções. Nas últimas décadas, por outro lado, houve várias tentativas de salientar novamente os aspectos metafísicos e ontológicos do pensamento kantiano. Um dos primeiros esforços nesse sentido foi o de Alfonso Bilharz (1836-1925), que assinalou haver - ou 'dever haver' - uma ontologia na base o kantismo e que a filosofia de Kant ficaria incompleta 'se um conceito do ser, ao completá-la, não tivesse vindo em seu socorro' (cf. Die Philosophie der Gegenwart in Selbstdarstellungen, V, 4). Mas esses esforços intensificaram-se com as interpretações de Ortega, de Heidegger, de Gottfried Martin, de H. Heimsoeth, que procuraram mostrar o caráter 'aberto' da filosofia kantiana e o fato de que com frequência é possível descobrir por trás da letra gnosiológica o espírito metafísico. Uniram-se a essas interpretações a de Lucien Goldmann, que sob a influência de Heidegger e de G. Lukács, procurou mostrar que o ponto de vista construtivo de Kant predomina sobre o ponto de vista crítico e que, de todo modo, há em Kant uma 'visão trágica' que é pouco compatível com as interpretações gnosiológicas neokantianas de seu pensamento. É mais provável, naturalmente, que as interpretações da filosofia de Kant ainda não tenham chegado ao fim.
      Obras em Português: Lógica, 1992; Doutrina do Direito, 1993; O conflito das faculdades, 1993; Crítica da faculdade do juízo, 2. ed., 1995; Crítica da razão prática, 1994; Crítica da razão pura, s.d.; Duas introduções à crítica do juízo, 18. ed., 1995; Fundamentação de metafísica dos costumes, 1995; A paz perpétua e outros opúsculos, 1995; Primeiros princípios metafísicos de ciência da natureza, s.d.; Os progressos de metafísica, 1995; Prolegômenos a toda metafísica futura, 1995; A religião nos limites de simples razão, s.d.; Sobre a pedagogia, 1996. Antropologia de um ponto de vista pragmático, 2006; Investigação sobre a clareza dos princípios da teologia natural e da moral: anúncio do programa de lições para o semestre de inverno de 1765-1766, 2006; Começo conjectural da história humana, 2010; Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita, 2011. (FONTE: MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia - Tomo III (K-P). São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 1624-1634).

    • Merleau-Ponty, Maurice

      Maurice Merleau-Ponty nasceu em 14 de Março de 1908 em Rochefort-sur-Mer (atualmente Paris, França). Lecionou filosofia nos liceus de Beauvais (1921-1923) e Chartres (1934-1935). De 1935 a 1938, foi agrégé-répetiteur na Escola Normal Superior. Em 1939, visitou os arquivos Husserl, de Lovaina. Oficial no Exército de 1939-1940; de 1940 a 1944, lecionou filosofia no Liceu Carnot, de Paris, participando do movimento de resistência. Em 1945, doutorou-se na Sorbonne com sua obra sobre a fenomenologia da percepção. Leitor e professor de filosofia da Universidade de Lião (1945-1949), professor de psicologia na Sorbonne (1949-1952) e no Collège de France (1935-1961). Merleau-Ponty não tardou a manifestar uma tendência filosófica - ou, mais exatamente, uma intenção filosófica - bem definida: a de buscar e desmascarar as realidades concretas ocultadas por teorias que em certos casos mantêm um dualismo inadmissível e, em outros casos, tentam solucionar esse dualismo reduzindo um tipo de realidade (ou um tipo de pensamento) a outro. À luz dessa tendência ao concreto devem-se rejeitar, de acordo com Merleau-Ponty, filosofias que, como o cartesianismo, partem da diferença entre substância pensante e substância extensa. Mas devem-se rejeitar igualmente as implicações (ou as interpretações incorretas) de filosofias como a de Jean-Paul Sartre, o qual situou a análise filosófica em bases novas (e nesse sentido influenciou sobremaneira Merleau-Ponty), mas caiu às vezes num dualismo: o do Em-si e do Para si. A filosofia de Merleau-Ponty é também, tal como a de Sartre, uma filosofia existencial. Não obstante, evita certos inconvenientes do pensamento sartriano, em especial os derivados do 'absolutismo' deste último. O Para-si de Sartre terminava por transformar-se numa consciência-testemunha. Merleau-Ponty opõe-se a toda concepção da consciência como interioridade, assim como à concepção do corpo como uma coisa (quaisquer que sejam os matizes de sua 'coisiddade'). A consciência está verdadeira e efetivamente comprometida no mundo. Isso fica bem manifesto, segundo o autor, quando se submetem a análise, a estrutura do comportamento e a da percepção. Os fatos que a ciência proporciona devem ser admitidos. Mas isso não equivale a admitir os pressupostos ontológicos das teorias científicas (como o behaviorismo e a psicologia da estrutura), as quais costuma forçar os dados para ajustá-los a esses pressupostos. Uma nova ontologia mais fiel à realidade mostra, em contrapartida, que fazer do homem uma pura subjetividade ou uma série de comportamentos de índole supostamente objetiva (ou objetivo-externa) equivale a uma ruptura artificial do ser unitário do homem. A unidade desse ser é, ao mesmo tempo, a de sua inserção no mundo. Daí a frase do autor: 'Não existe homem interior.'. Essa frase não é só negativa, ela implica a seguinte afirmação: 'Há um homem efetivo, real, concreto, que não se limita a possuir consciência ou corpo ou a confrontar-se com a realidade externa, mas que é consciência e corpo (ou consciência-corpo).'. Com isso, criticam-se não apenas as interpretações psicológicas usuais do ser do homem, como também todas as filosofias 'clássicas', sejam empiristas ou racionalistas, sejam realistas ou idealistas. Esta última afirmação aparece com bastante clareza quando observamos que a doutrina de Merleau-Ponty sobre a percepção não é só de índole psocológica. A análise fenomenológica da percepção mostra-nos nesta uma síntese de índole 'prática' (não intelectual), que é possível por haver no mundo percebido a forma das relações diversas entre os elementos da percepção. Essas formas são captadas pelos indivíduos de acordo com suas situações no mundo. Isso não relativiza a percepção, pelo contrário, atribui-lhe consistência objetiva, pois permite construir sobre ela o mundo da reflexão. A percepção não é nem uma sensação considerada inteiramente individual-subjetiva, nem um ato da inteligência; é o que religa uma e a outra na unidade da situação. Isso explica, diga-se de passagem, que a verdade (incluindo a verdade lógica ou matemática) não seja intemporal, mas algo reconhecível por todo aquele que participa de uma situação dada. Reduzir a consciência à coisa ou a coisa à consciência é, pois, negar a realidade concreta. Ora, a crítica de Merleau-Ponty não se limita às teorias tradicionais da percepção nem mesmo às grandes teses filosóficas sobre a estrutura da realidade e os modos de conhecê-la; ela atinge todas as manifestações humanas - a linguagem, o juízo, as formas culturais -, todas as noções classicamente metafísicas - espaço, tempo etc - e todas as noções morais. No que se refere a este último aspecto, cabe notar a dupla crítica a que Merleau-Ponty submete a concepção da liberdade como algo meramente aparente e seu conceito como um absoluto não limitado por nada: a liberdade é, na opinião do autor, algo que se faz concretamente no mundo e seguindo as circunstâncias às quais está ligada e das quais ao mesmo tempo se depreende. A tendência de Merleau-Ponty a encontrar pontos de apoio concretos entre extremos sem por isso fazer de sua filosofia um mero ecletismo se revela igualmente em sua filosofia política. Durante alguns anos, o autor procurou desenvolver uma espécie de marxismo existencialista mais fiel ao marxismo original do que à sua ulterior mecanização e superficial 'cientifização'. Merleau-Ponty insistiu especialmente na necessidade de opor-se por igual a uma redução do homem a um conjunto de determinismos sociais ou à idéia de uma suporta interioridade irredutível ao social. A ruptura posterior de Merleau-Ponty, podemos então afirmar, com os marxistas (e com Jean-Paul Sartre) não significa um abandono completo de suas primeiras posições filosófico-políticas. Para Merleau-Ponty, somos levados a interpretar os dados do mundo - e do homem dentro do mundo - enquanto 'signos' de uma unidade que deverá inventar para dar sentido à existência humana e à sua 'inserção no ser'. Os signos assim perseguidos são 'desprovidos de significações' não permanentes, não sendo dados de uma vez por todas, mas encontrando-se em vias de fazer-se - e desfazer-se - dentro da trama da experiência e do saber, e a unidade também dos diversos saberes como formas de pensar no âmbito da 'unidade filosófica'. Merleau-Ponty acabou por falecer abruptamente em 1961 aos 53 anos, enquanto preparava uma aula sobre Descartes, em Paris.
      Obras em português:
      Humanismo e terror, 1968; Elogio  da filosofia, 1979; Textos selecionados, 1984; Merleau-Ponty na Sorbonne: filosofia e linguagem, 1990; Merleau-Ponty na Sorbonne: psicossociologia e filosofia, 1990; Primado da percepção e suas consequências filosóficas, 1990; Signos, 1991; O visível e o invisível, 1992; Fenomenologia da percepção, 1999; A natureza, 2000.

    • Nietzsche, Friedrich

      Friedrich Nietzsche nasceu em 15 de outubro de 1844 em Röcken (Prússia) - hoje estado de Saxônia-Anhalt, da Alemanha. Foi estudar na Universidade de Bonn com O. Jahn e F. Ritschl. Mudou-se em 1865 para Leipzig, onde estudou filologia e começou a entusiasmar-se com Schopenhauer e a música. Travou ali amizade com Erwin Rohde e mais tarde com Richard Wagner. Nomeado no ano de 1870 professor ordinário de filologia clássica na Basiléia, onde travou contato com J. J. Bachofen e Jakob Burckhardt, deixou o cargo em 1878 devido a grave enfermidade, após ter rompido com Wagner. Até mais ou menos 1889, justo seu período de maior atividade literária, passou grande parte dos verões em Sils-Maria, na Engadina, e o restante do tempo na Riviera e em diversas cidades da Itália e da Alemanha quase sempre solitário, e sofrendo repetidas crises, por vezes rodeado por seus amigos e discípulos. Por fim, a profunda depressão nervosa de que sofria há anos produziu um súbito obscurecimento mental, tendo-lhe sobrevindo por fim uma paralisia que o fez ser trasladado para a Clínica Psiquiátrica da Universidade de Jena. Nietzsche Passou o resto da vida em Naumburg e Weimar, com a mãe e a irmã. A doutrina filosófica de Nietzsche, cujo caráter poético e pessoal tem sido tão insistentemente acentuado, é também, de certo modo, como a de Kierkegaard, uma filosofia existencial, mas um 'existencialismo' de sentido e conteúdo deveras distintos. Costumam-se distinguir em sua evolução filosófica três períodos mais ou menos definidos: o primeiro, que vai dos estudos em Leipzig a 1878, caracteriza-se por seus primeiros trabalhos de interpretação e crítica da cultura, bem como por sua vocação schopenhaueriana e wagneriana; é a época de A origem da tragédia no espírito da música (1972), de A filosofia na idade trágica dos gregos (1874), das Considerações extemporâneas (1873-1876). O segundo é o período no qual Nietzsche presta homenagem à cultura e ao espírito livres, num sentido semelhante ao da Ilustração francesa. É representado por Humano, demasiado humano (1876-1880), Aurora (1881) e A gaia ciência [Die froliche Wissenschaft] (1882). O terceiro e último, o chamado período de Zaratustra ou da 'vontade de poder', compreende Assim falou Zaratustra (1883). Para além do bem e do mal (1886), Genealogia da moral (1887), Nietzsche contra Wagner (1888), Crepúsculo dos ídolos (1889), os diversos esboços para A inversão de todos os valores, com O Anti-Cristo, O imoralista, a Crítica da filosofia e, finalmente, sua obra capital, A vontade de poder. Ensaio de uma transmutação de todos os valores, executada em parte fragmentariamente, e que constitui uma ampliação e realização dos esboços anteriores, com as teses sobre O niilismo europeu, a Crítica de todos os valores, os Princípios de um novo quadro de valores e os aforismos definitivos sobre O eterno retorno. Contudo, ao longo desses períodos, aparentemente tão distintos, pulsa em Nietzsche uma perfeita unidade e, para dizê-lo com Pfander, um sistema. Esse sistema mostra-se mais compreensível a partir de sua última fase, em que são englobados os momentos anteriores, a partir da época schopenhaueriana e da distinção entre o espírito apolíneo e o espírito dionisíaco e englobando as tentativas de estabelecer um novo quadro de valores. A distinção entre o apolíneo e o dionisíaco na cultura grega e, por seu intermédio, em toda a cultura ocidental, é resolvida por Nietzsche mediante a acentuação deste último elemento, entendido como afirmação da vida, como uma vontade de viver. Essa vontade, que oferece, em sua concepção, caracteres a-históricos, que significa uma negação de toda a cultura alemã de sua época e, sobretudo, da identificação hegeliana do real com o racional, tem por consequência natural uma aguda crítica do filisteísmo cultural, que Nietzsche vê representado sobretudo em David F. Strauss e que estende à cultura burguesa e satisfeita, à vida que não se resigna a 'viver em perigo'. Genialidade estética e espírito trágico, música e desmesura são as categorias com as quais Nietzsche constrói o primeiro andaime de seu sistema, do qual não se pode excluir, devendo-se antes integrar, a aparente fase contraditória do amor ao Iluminismo voltariano, porque este não é entendido como um otimismo filisteu acerca do progresso, mas seguindo a tendência dos moralistas franceses do século XVIII, como uma verdadeira e profunda compreensão da alma humana, tanto de seu valor como de sua incurável estupidez. O suposto iluminismo nietzschiano é, por via de consequência, apenas uma preparação para sua crítica ulterior, e inclusiva, da cultura européia, para a elaboração de sua própria filosofia, em que o radical pragmatismo vitalista e mesmo biológico não consegue desvirtuar a descoberta do elemento no qual repousa necessariamente a cultura: a criação do valor. A descoberta dos valores, realizada no curso de uma constante polêmica contra a moral, é o resultado de uma análise profunda e apaixonada dos valores da cultura européia, valores que vê encarnados no cristianismo, no socialismo e no igualitarismo democrático. Nietzsche sustenta que esses ideais não passam de formas de uma moral que deve ser superada mediante um ponto de vista situado para além do bem e do mal, manifestações de uma vitalidade descendente, de um ascetismo a que ele opõe como valor supremo a vitalidade ascendente, a vontade de viver e, em última instância, a vontade de poder. A luta contra os valores até então vigentes implica por certo o desvelamento de sua chaga secreta, a evidência tanto da falsidade radical do pretenso objetivismo do homem de ciência como do espírito decadente do cristianismo, que Nietzsche vê como uma manifestação do ressentimento moral. Diante desses valores, Nietzsche acentua aquilo que ele denomina, com um termo nem sempre unívoco, a vida. Esta é a norma e valor supremos, a que se devem submeter os outros, porque a vontade de viver é o maior desmentido possível da objetividade, do igualitarismo, da piedade e da compaixão cristãs. Mas a vontade de viver, que é vontade de poder e de domínio, exige, ao lado da crítica dos referidos falsos valores, a construção de um novo ideal do super-homem (Ubermensch), que é o 'sentido da terrra', já que 'o homem é algo que deve ser superado'. O super-homem é aquele em que a vontade de domínio se revela em toda a sua força; é aquele que está verdadeiramente além da moral, o que tem a coragem de afirmar, diante da moral, a virtú no sentido do Renascimento Italiano. O super-homem é o que vive em constante perigo, que, por ter-se desvinculado dos produtos de uma cultura decadente, faz de sua vida um esforço e uma luta. Se o super-homem tem alguma moral, trata-se da moral do senhor, oposta à moral do escravo e do rebanho e, portanto, oposta à moral da compaixão, da piedade, da doçura feminina e cristã. A idéia do super-homem, com sua moral do dominador e do forte, já é a primeira inversão dos valores, pois estes adquirem uma hierarquia contrária quando contemplados desse ponto de vista. Objetividade, bondade, humildade, satisfação, piedade, amor ao próximo são valores inferiores; estão num nível distinto do que supõe o escravo, pois a vida e sua afirmação, o poder, são infinitamente superiores a eles e exigem a criação de uma nova tabela de avaliação, uma tabela em que a objetividade é substituída pela personalidade criadora, a bondade pela virtú, a humildade pelo orgulho, a satisfação pelo risco, a piedade pela crueldade e o amor ao próximo pelo amor ao distante. Esses são os valores da vida ascendente, valores que a cultura européia recusou, desembocando por isso em seu estado atual, no niilismo que se anuncia, e para cuja música 'todos os ouvidos estão atentos'. O profetismo de Nietzsche é pura e simplesmente uma consequência de sua crítica dos valores da cultura presente, porque a cultura que abraçou um falso quadro de valores deve desembocar necessariamente no ruir e na decadência, deve ficar sepultada pela maré que avança impetuosa e da qual só se salvarão aqueles que sintam como sua a necessidade de separação do homem. A filosofia de Nietzsche está inteiramente expressa nos princípios de sua nova valoração, que compreende a subordinação do conhecimento à necessidade vital e mesmo biológica, a formação de uma lógica para a vida, o estabelecimento de um critério de verdade de acordo com a elevação do sentimento de domínio, a negação do universal e necessário, a luta contra todo metafísico e absoluto. Crítica e inversão de valores que exigem ao mesmo tempo uma destruição da filosofia e da sua história; em lugar da sociologia, a doutrina das formas de domínio (ou de poder); em lugar da metafísica e da religião, a doutrina do eterno retorno. Esta última doutrina, que repreesnta talvez o papel culminante na filosofia de Nietzsche, fazendo dela uma mítica e uma filosofia da salvação, é chamada por ele 'uma profecia'. Várias são as interpretações recebidas pela filosofia de Nietzsche. Seu modo aforístico de escrita contribuiu para a multiplicidade de interpretações. Muitos dos aforismos são incisivos, outros são - ou são também - ambíguos, ao mesmo tempo que 'sugestivos'. Uma parte importante do pensamento de Nietzsche é a que recebeu a designação de sua 'última etapa', expressa nos aforismo agrupados sob o título A vontade de Poder, que podem ser, e o foram, organizados de inúmeras maneiras. O próprio Nietzsche formulara um 'plano' de publicação. Por algum tempo, a intervenção de sua irmã, Elisabeth Föster-Nietzsche, na publicação dos escritos do irmão e da correspondência, proporcionou uma imagem do filósofo que se considerou deformada, especialmente do ponto de vista político. A apresentação das obras de Nietzsche por Karl Schlechta suscitou grande interesse por ter contribuído para restabelecer a verdadeira imagem do filósofo, embora alguns autores, como W. A. Kaufmann, indiquem exageros na mudança de imagem efetuada por Schlechta. Nietzsche acabou falecendo em 25 de agosto de 1900. Encontra-se sepultado em Röcken Churchyard, na mesma cidade onde nascera, na Alemanha. Obras em português: A origem da tragédia no espírito da música (1972); O livro do filósofo, 1984; Ditirambos de Dionisos, 1986; A gaia ciência, 1987; Correspondência com Wagner, 1990; Além do bem e do mal, 1992; Da retórica, 1995; A filosofia na idade trágica dos gregos, 1995; Breviário de citações, 1996; O anti-Cristo, 1997; Genealogia da moral, 1998; Assim falou Zaratustra, 1998; Aurora, s.d.,  Caso Wagner - um problema para músicos, 1999; Cinco prefácios para cinco livros não escritos, 2000; Humano, demasiado humano, 2000; Crepúsculo dos ídolos, 2000; Ecce Homo, 2000;

      (FONTE: MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia - Tomo III (K-P). São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 2090-2094).

    • Peirce, Charles S.

      Charles Sanders Peirce nasceu em 10 de setembro de 1839 em Cambridge, Massachusetts. Charles S. Peirce era filho de Benjamim Peirce, na época um dos mais importantes matemáticos de Harvard. Charles S. Peirce licenciou-se em ciências e doutorou-se em química em Harvard. Ensinou na Universidade de Harvard (1864-1865; 1869-1870), na John Hopkins University (1879-1884) e desenvolveu escassa atividade literária que, além disso, foi quase integralmente publicada em revistas, principalmente em The Monist e em Popular Science Monthly. Contudo, sua influência e importância têm sido muito maiores do que poderia fazer supor sua atividade docente, e nos últimos tempos sua figura tem se destacado de modo eminente, não só como um dos fundadores do pragmatismo norte-americano e como pensador que influenciou, po r meio do pragmatismo, as figuras mais significativas da filosofia nos Estados Unidos, mas como pensador que atacou na raiz os problemas centrais da lógica e da filosofia. O afã inquisitivo e pouco sistemático que, de modo análogo a Dilthey ou a G. E. Moore, Charles S. Peirce mostrou era, aliás, propício para aprofundar-se particularmente em certos temas. As influências por ele sofridas foram claramente confessadas: estudo amplo da lógica em todas as direções, de Kant, de Duns Scot; estima pela filosofia clássica alemã como mina de incitações filosóficas, e preferência pelos métodos e argumentos da filosofia inglesa; aceitação da ideia da evolução, mas não sob a forma spenceriana. Peirce concebeu, a rigou, a filosofia como uma disciplina análoga às demais da ciência. Mas, diferentemente da ciência, ela tem um objeto universal. Por isso a filosofia é mais difícil que nenhuma outra ciência, pois tem de prestar atenção ao mesmo tempo ao observável e ao especulativo. A filosofia tem de utilizar por igual o método de análise e o da síntese. Por isso a filosofia de Peirce é, como o próprio pensador indicou repetidamente, uma 'filosofia de laboratório' e não uma 'filosofia de seminário'. Com efeito, esta filosofia 'usa os métodos mais racionais que pode descobrir para encontrar o pouco que se pode encontrar do universo do espírito e da matéria a partir das observações que cada um pode fazer em qualquer momento de sua vida em vigília' (Collected Papers, 1:126). A filosofia tem de começar com o que se dá. Mas tem de entender o dado - ou o ser - por meio de normas - ou o dever ser - e efetuar com base nisso conclusões de caráter especulativo. A filosofia tem três divisões: a fenomenologia, a ciência normativa e a metafísica (ibid., 1:186). A fenomenologia é a doutrina das categorias e tem pressupostos ontológicos. A ciência normativa, apoiada na fenomenologia e na matemática, se subdivide ao mesmo tempo em estéticaética e lógica. A metafísica se divide em metafísica geral ou ontológica, metafísica psíquica ou religiosa e metafísica física. Mas ao mesmo tempo a filosofia não é mais do uma subdivisão numa ampla classificação das ciências; é uma parte das ciências do descobrimento, que são por sua vez uma subdivisão da ciência teórica. As indicações acima oferecem só um esquema de algumas das intenções de Peirce em matéria filosófica. Suas concretas realizações filosóficas, embora fragmentárias (salvo na lógica), são demasiado extensas para que as possamos descrever esquematicamente. Mencionamos entre as mais importantes as seguintes. No campo da lógica, Peirce combateu o psicologismo, assim como todas as ingerênciasque desvirtuam o caráter formal da lógica. Embora o ponto de partida da lógica seja, segundo Peirce, 'o fato', e embora a estrutura da lógica seja idêntica, em seu entender à da ontologia, a lógica como ciência tem caráter matemático. Entre as principais contribuições lógicas de Peirce, figuram a invenção de vários simbolismos e a lógica das relações, da qual pode ser considerado um dos fundadores. No campo da semiótica, deve-se a Peirce uma complexa teoria dos signos e várias classificações dos mesmos. A isso se acrescenta uma teoria do simbolismo que com frequência vai mais além da semiótica formal e serve como base de uma antropologia filosófica. Semiótica e lógica, ademais, estão estreitamente relacionadas, porquanto a lógica é definida também como a teoria dos signos, da qual a semiótica - chamada por Peirce de 'gramática especulativa' - é uma parte. No campo da ontologia, Peirce elaborou sua fenomenologia como doutrina das categorias, especialmente das categorias faneroscópicas e metafísicas. A relação entre lógica e ontologia é também muito estreita. Na cosmologia formulou uma teoria do 'tichismo' à qual nos referimos em Acaso. O pensamento de Peirce deu origem nos últimos anos a múltiplas interpretações. Umas se referem a aspectos particulares de sua filosofia. Por exemplo, tem-se discutido muito se a filosofia de Peirce é (como indicou o próprio filósofo em repetidas ocasiões, especialmente ao referir-se à influência recebida de João Duns Scot - filósofo e teólogo do século XIII) de caráter realista ou se é possível dar-lhe um viés nominalista. Também se discutiu se o mais característico e valioso de Peirce é seu trabalho lógico ou sua investigação ontológica. Outras interpretações se referem ao conjunto de sua filosofia. Entre elas se destacam duas. Segundo uma (defendida em parte pelos editores de Peirce [P. Weiss e Ch. Hartshorne] e especialmente por J. Feibleman), o pensamento de Peirce é de natureza sistemática. Embora Peirce tenha praticado a filosofia como análise em forma ao método de produção científica, e embora a maneira como apresentou suas idéias não seja sistemática, suas idéias mesmas, segundo esta interpretação, são sistemáticas, quando menos se nos ativermos a seus 'princípios condutores'. Segundo outra interpretação (defendida especialmente por Thomas Goudge), o pensamento de Peirce não é sistemático: suas contradições e inconsistências devem ser aceitas tal qual se apresentam sem pretender reduzi-las a um sistema. Segundo Goudge, tais inconsistências se devem à existência de duas diferentes fontes no pensamento de Peirce: o naturalismo e o transcendentalismo. Cada uma delas dá origem a uma série diferente de resultados. Obras principais editadas em Inglês: Collected Papers of Charles Sanders Peirce, 8 vols. (vol. I - Principles of Phiosophy, 1931; II - Elements of logic, 1932; III - Exact Logic, 1933; IV - The Simplest Mathematics, 1933; V - Pragmatism and Pragmaticism, 1934; VI - Scientific metaphysics, 1935; VII - Science and philosophy, 1958; VIII - Reviews. Correspondence and bibliography, 1958). Obras em Português: Semiótica, 1999; Escritos coligidos (Coleção 'Os Pensadores'), 1983; Semiótica e filosofia, 1984. Charles Sanders Peirce faleceu em 19 de abril de 1914 aos 74 anos, em Milford na Pensilvânia, EUA. (FONTE: MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia - Tomo III (K-P). São Paulo: Edições Loyola, 2001. p. 2230-2232).

    • Rousseau, Jean-Jacques
      Jean-Jacques Rousseau foi um importante filósofo, teórico político e escritor suíço. Nasceu em 28 de junho de 1712 na cidade de Genebra (Suíça) e morreu em 2 de julho de 1778 em Ermenoville (França). Rousseau não conheceu a mãe, pois ela morreu no momento do parto, sendo criado pelo pai, um relojoeiro, até os 10 anos de idade. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo, sendo que suas idéias influenciaram a Revolução Francesa (1789). Em 1722, outra tragédia familiar acontece na vida de Rousseau, a morte do pai. Na adolescência foi estudar numa rígida escola religiosa. Nesta época estudou muito e desenvolveu grande interesse pela leitura e música. No final da adolescência foi morar em Paris e, na fase adulta, começou a ter contatos com a elite intelectual da cidade. Foi convidado por Diderot para escrever alguns verbetes para a Enciclopédia. No ano de 1762, Rousseau começou a ser perseguido na França, pois suas obras foram consideradas uma afronta aos costumes morais e religiosos. Refugiou-se na cidade suíça de Neuchâtel. Em 1765, foi morar na Inglaterra a convide do filósofo David Hume. De volta à França, Rousseau casou-se com Thérèse Levasseur, no ano de 1767. Escreveu, além de estudos políticos, romances e ensaios sobre educação, religião e literatura. Sua obra principal é Do Contrato Social. Nesta obra, defende a idéia de que o ser humano nasce bom, porém a sociedade o conduz a degeneração. Afirma também que a sociedade funciona como um pacto social, onde os indivíduos, organizados em sociedade, concedem alguns direitos ao Estado em troca de proteção e organização. Dentre suas obras principais, estão: 'Discurso Sobre as Ciências e as Artes', 'Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens', 'Do Contrato Social', 'Emílio, ou da Educação', 'Os Devaneios de um Caminhante Solitário'.
    • Wittgenstein, Ludwig J. J.

      Ludwig Josef J. Wittgenstein nasceu em 28 de abril de 1889, na Saxônia. Formado em junho de 1929 em filosofia pela Universidade de Cambridge, teve como examinadores de seu doutoramento Bertrand Russell e G. E. Moore, a quem é devido o título latino da tradução inglesa de 1922 de sua obra mais importante, o 'Tractatus Logico-Philosophicus'. Após se formar, publicou um breve ensaio (Algumas observações sobre forma lógica) que, juntamente com o Tractatus, foram suas obras publicadas em vida ainda. Suas obras póstumas 'Investigações filosóficas' e 'Cadernos Azul e Marrom', aliadas às obras anteriores, exerceram profunda influência no pensamento do século XX. Muitas das teses do Círculo de Viena foram escritas a partir da interpretação empirista do Tractatus. Dentre estas, o princípio da verificabilidade, segundo o qual o significado de uma proposição reduz-se ao conjunto de dados empíricos imediatos. Todavia - como apontam alguns autores - é excessivo dizer que ela tenha sido o 'pai do positivismo lógico' do Círculo de Viena. Wittgenstein admite a possibilidade de apreensões intuitivas no terreno da linguagem, do pensamento ou da realidade, embora ressalvando que tais intuições não podem ser expressas pela linguagem. O filósofo Wittgenstein influenciou consideravelmente a 'filosofia linguística', desenvolvida pelo Grupo de Oxford. (Adaptação e tradução de: PITCHER, G. The philosophy of Wittgenstein, Englewoods Cliffs: Prentice Hall, 1964; WITTGENSTEIN, L. Investigações filosóficas. São Paulo: Nova Cultural, 1999.)

  • mais temas...
    • Abusos ou maus-tratos sexuais infantis
      Abuso sexual de crianças ou menores.
    • Atitude frente a morte
      Resposta conceitual de uma pessoa aos vários aspectos de morte, que são baseados na experiência psicossocial e cultural do indivíduo.
    • Bullying ou Assédio escolar
      Comportamento agressivo com intenção de causar mal ou sofrimento. O comportamento pode ser físico ou verbal. Caracteristicamente há um desequilíbrio de poder, força ou condição (social) entre o alvo e o agressor. (DECS, 2011). Uma forma de intimidação normalmente caracterizada por algum tipo de provocação, ameaça, antagonização, violência física e vitimização (Tradução livre de Tesauro do PsycInfo, 2011).
    • Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

      Seu objetivo é oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), entre todos os dispositivos de atenção à saúde mental, têm valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica Brasileira. Com a criação desses centros, possibilita-se a organização de uma rede substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no país. Os CAPS são serviços de saúde municipais, abertos, comunitários que oferecem atendimento diário (FONTE: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial. Brasília: Ministério da Saúde; 2004. Série F. Comunicação e Educação em Saúde. 11/29. Portal do Ministério da Saúde.)

    • Crianças ou Adolescentes em Situação de rua

      Crianças e/ou adolescentes fugitivos e/ou desabrigados vivendo nas ruas da cidade e sem lugar fixo de residência.

    • Depressão ou Estado depressivo

      Disturbio afetivo caracterizado por alteracoes de humor, ociosidade, falta de interesse, insonia, sentimentos de auto-depreciacao, reducao na capacidade de pensar, e pensamentos de suicidio. Considere DEPRESSAO (EMOCAO) para acessar referencias anteriores a 1988. Use DEPRESSAO (EMOCAO) para a depressao nao-clinica.

    • Estresse Psicológico
      Quadro mórbido característico, de natureza basicamente psíquica, onde inexistem causas orgânicas capazes de serem evidenciadas pelos meios usuais de exame médico, que aparece em condições especiais, de trabalho ou de guerra. Apresenta quadro predominante psíquico acompanhado de repercussões orgânicas. A sintomatologia é múltipla e polimorfa com cefaleias, tonturas, anorexia, tremores de extremidades, adinamia, dificuldades de concentração, crises de choro.
    • Exclusão ou Isolamento social
      A separação de indivíduos ou grupos resultando em falta de ou diminuição de contato social e/ou comunicação. Esta separação pode ocorrer por separação física, barreiras sociais e por mecanismos psicológicos. Neste último caso, pode haver interação mas não uma comunicação verdadeira.
    • Homossexualidade
      Atração ou relação sexual entre membros do mesmo sexo.
    • Interpretação psicanalítica

      Utilização das teorias freudianas para explicar vários aspectos psicológicos da arte, literatura, material biográfico, etc.
      Nota de Indexação: item primário; sem qualif; Não o confunda com TEORIA PSICANALÍTICA na qual a teoria é em um nível mais universal.

    • Políticas Públicas
      Conjunto de disposições, medidas e procedimentos que traduzem a orientação política do Estado e regulam as atividades governamentais relacionadas às tarefas de interesse público, atuando e influindo sobre a realidade econômica, social e ambiental. Variam de acordo com o grau de diversificação da economia, com a natureza do regime social, com a visão que os governantes tem do papel do Estado no conjunto da sociedade, e com o nível de atuação dos diferentes grupos sociais (partidos, sindicatos, associações de classe e outras formas de organização da sociedade) (Bobbio, N; Mattencci, N; Pasquino, G. Dicionário de Política Brasília: Universidade de Brasília, 1986. 1318 p. : il. Disponível em: http://www.professores.uff.br/jorge/polit_intro.pdf).
    • Relações entre pais e filhos
      As interações entre pais e filhos.
    • Sexualidade

      Conceito que significa tanto a pura realidade sexual do homem e da mulher, como também o instinto sexual com suas amplas variações e irradiações e seu poder de criação cultural. Tradicionalmente, define-se a sexualidade como todas as expressões da vida fundadas (ou que se pode fundar) no sexo. Acrescenta-se à definição dada que ela não pertence às regulagens não-homeostáticas. Em compensação, a sexualidade não possui mecanismo de satisfação que seja univocamente suficiente. Não é como a fome, a respiração, as funções escretoras etc, redutíveis a acalmar simplesmente uma necessidade biológica. Do ponto de vista psicológico, é considerado sexual todo comportamento que apresenta simultaneamente a excitação nervosa e orgânica do órgão sexual (estimulação) e intensa particpação psicológica - indiferente se ocorre no indivíduo isolado, no encontro de dois sexos diferentes (para a cópula ou apenas para a satisfação sexual mútua) ou também entre indivíduos do mesmo sexo. Em suas formas de expressão (configuração), a sexualidade  varia extremamente com as diferentes  estruturas socioculturais (patriarcado, matriarcado etc) como também com os costumes dos ritos sexuais dominantes. (Dorsch, F. ; Hacker, H.; Stapf, Kurt-Hermann (eds.). Dicionário de Psicologia DORSCH. Petrópolis: Vozes, 2001. p. 868-869).

    • Subjetividade

      Característica do sujeito, aquilo que é pessoal, individual, que pertence ao sujeito e apenas a ele, sendo portanto, em última análise, inacessível a outrem e incomunicável. Interioridade. Vida interior. A filosofia chama de 'subjetivas' as qualidades segundas ( o quente, o frio, as cores), pois não constituem propriedades dos objetos, mas 'afetações' dos sujeitos que as percebem. Nenhum objeto é quente ou frio, mas cada um possui apenas uma certa temperatura. Toda impressão é subjetiva. Por isso, Kant chama de subjetivos o espaço e o tempo, porque não são propriedades dos objetos, não nos são dados pela experiência, mas pertencem ao sujeito cognoscente: são 'formas a priori da sensibilidade'. Assim, a subjetividade caracteriza a teoria do conhecimento de Kant. (JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de Filosofia. 3. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.).

    • Testes psicológicos ou neuropsicológicos

      Testes padronizados projetados para medir habilidades, como nos testes de inteligência, aptidão, e realização, ou para avaliar traços de personalidade.

    • Violência na familia ou doméstica

      Problema universal que atinge milhares de pessoas, em grande numero de vezes de forma silenciosa e dissimuladamente. Acomete ambos os sexos e não costuma obedecer a nenhum nível social, econômico, religioso ou cultural específico. Sua importância é relevante sob dois aspecto: devido ao sofrimento indescritível que imputa às suas vítimas, e porque pode impedir um bom desenvolvimento físico e mental da vítima. Inclui também a negligência precoce e o abuso sexual.

    • Técnicas psicoterapêuticas

      Relação de técnicas e formas de atendimento psicológico aplicáveis a pacientes com uma demanda específica de acompanhamento psicológico e/ou psicoterapêutico.

      • Psicoterapia de Grupo
        Forma de terapia da qual dois ou mais pacientes participam sob a orientação de um ou mais psicoterapeutas, com o propósito de tratar distúrbios emocionais, desajustamentos sociais e estados psicóticos.
      • Terapia Comportamental

        A aplicação de teorias modernas de aprendizagem e de condicionamento para o tratamento dos transtornos do comportamento.

      • Terapia Familiar

        Forma de psicoterapia de grupo. Envolve o tratamento simultâneo de mais de um membro da família na mesma sessão.

  • Políticas públicas de educação, saúde e escolarização

    Apresenta cronologicamente as políticas públicas de Saúde e Educação relacionadas ao enfrentamento das dificuldades identificadas no processo de escolarização, articulando-as às pesquisas realizadas na área e a elementos dos processos de implementação destas políticas.

    O marco histórico inicial é a Constituição de 1988. As informações estão organizadas de forma a permitir a comparação entre as esferas federal, estadual e municipal, e contem links que acessam:

    • a íntegra do texto das políticas;
    • pesquisas acadêmicas que discutem tais políticas em seu processo de implementação e outros elementos a elas relacionados.

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